quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

A Minha História

A ausência do personagem da minha história fez com que começasse e recomeçasse meu enredo por milhares de vezes. Ele é o homem. Uma vez tentaram retirar a máscara do homem pra ver o que havia por baixo dela; sem história nem enredo. Se assustaram tanto que o proibiram de voltar aqui, pra história. Agora fica tudo assim: sem enredo, sem personagem e sem história. O homem está se maquiando na tentativa de voltar à hiostória.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Projétil

Fiu lançado na noite.
Noite veloz e atroz.
Degustei a sombra da carne
Que apodrecia à noite.

Sou projétil humano
Lançado à terra e busca de vida.

Amai ao projétil!
Louvai o projétil!
Adorai o projétil!

Sou projeto.
Amai ao projeto.
Que o dia nascerá.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

(não sei um título)

Crie a imagem de um palhaço.
Agora de um palhaço muito alegre na perna-de-pau.
Um monte de crianças correndo em volta.
Colora tudo com bastante cor...
Colorido de gastar a ponta do lápis.

Agora pega o papel e joga no lixo.

Assim é a poesia.
A gente lê, emociona e guarda o livro.

domingo, 7 de dezembro de 2008

A escrita, o barulho e o dever

Ficaria sentado algum tempo sentindo a música se não fosse a obrigação de escrever algo. Era sempre aquilo. Nunca ouvia suas músicas por achar que devia escrever. O problema era justamente esse: estava tudo se tornando igual, sempre acontecia a mesma coisa. A faca suja de manteiga - ou margarina, nunca soube distinguir-, o papel no canto da mesa, todo rabiscado. Ah! Havia a mala quase pronta entre a sala e a copa. Devia estar pronta há uns seis meses. Dentro da mala algumas peças de roupa, umas meias, cuecas e uma escova de dente nova; fechada. Faltava somente um caderno e uma caneta. Senta à mesa e escreve. A música continua tocando, mas acaba virando só barulho solto.
Pronto: texto escrito... agora, atenção à música, por favor.

sábado, 6 de dezembro de 2008

Goodbye

E o vento rega a face trigueira
Que se aproxima do chão
A 10 m/s².

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Gustação Poética

Diria até que não sofro.
Mas a poesia arranca a carne que nasce todo dia.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

A Luz e o Astronauta

Deuses e Deusas,
Se acasalam, laicos.
Nasce uma estrela!
Estrela-Deus.

Dá-me um milagre, Deus-Estrela!
Só um...
Deixa-me ser estrela,
Qu'estrela nunca morre.
Estrela sempre brilha,
Mesmo sem luz.

Há no fogo do Homem
Um pouco de luz de Estrela-Deus.

sábado, 29 de novembro de 2008

Revólver

Argh! Detesto saliva. Esses dentes amarelos... isso é de fumar? Nojo. Invadir a boca alheia é um trabalho asqueroso. Definitivamente. Mais asqueroso é aquele que tem a necessidade de me aproximar de sua boca. Olhar para essa garganta me causa náuseas. Não sei porque trabalho com isso ainda. Esse dente mal escovado no fundo. Pelo hálito sabe-se que não esciva dentes há três dias. E deve ter ficado acordado também, né?

!

Porque está chorando? Agora vai soluçar comigo dentro da sua boca? Fica quieto. Quieto.

Atchin!

Essa gripe ainda mata.

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Metalinguagem #8 - O Poeta e o Verso

Sede donos de uma canção,
Cantai-a num tom maior,
E depois morrei
Numa nota derradeira,
E dai o silêncio
Sua vez de cantar.
Enfim, sede donos de um verso,
E fazei dele parte de vós;
Pó, eira, beira, pó[etas].

domingo, 23 de novembro de 2008

Sobre Homens, Borboletas e Cruzes

Havia uma borboleta.
Dois pregos atravessavam suas asas.
Havia uma cruz.
Dois pregos atravessavam uma cruz.
Havia um homem.
Ele pregava um borboleta na cruz.
Homens e borboletas nascem livres,
Mas sempre há uma cruz no caminho.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Superid

Andaria até sua casa. Andaria. Se não fosse o homem gentil que parara o carro e prometera carona. Sabia que corria risco, inclusive se lembrava dos comentários da mãe a respeito dos homens que fazem coisas, e que sempre começam com caronas. Mas preferiu ir. O caminho era curto, e à luz do dia nada lhe aconteceria, além do fato de o homem ser muito gentil e ter no mínimo uns três filhos. Não faria aquilo, não ele. Começou a perguntar sobre seus medos, principalmente sobre os homens que atacam as meninas. Dizia ela que não tinha medo do estupro por si próprio, mas tinha medo da paixão que poderia vir depois, igual em um livro lido. Chegou a comentar alguns psicanalistas que chegaram a explicar e provar por A mais B que após casos de estupro meninas se apaixonavam, ou tinham outros traumas piores. Mas ela estaria livre daquilo, estava sempre precavida. Num gesto inocente, olhava para as pernas dela, juvenis e bem torneadas. Usava uma saia vermelha, puxava para tapar o grande pedaço de coxa que ficava à mostra, apesar de não se importar muito com os olhares do senhor. Seus seios eram quase chamativos, e tinham também grande parte à mostra, pelo decote da camiseta. Sua testa suava, jamais imaginaria aquilo acontecendo consigo. Donde provinha o desejo que lhe aflorava pela pele? Em alguns minutos poderia sentir o cheiro dela mesmo de janelas abertas e no centro da cidade. Estava estático ao volante; seus movimentos era de puro hábito e sua mente se esforçava para não pensar em nada e como fuga perguntava sobre a localização de sua casa. Foram passadas algumas informações a respeito do caminho para sua casa e ele começou a levar-se naquela direção. Desviou o caminho alegando ir comprar cigarros, e de repente já se encontrava num lugar estranho, diria que quase inóspito. Era ela quem suava agora, e segurava forte sua mochila contra o peito, protegendo-a. Seria ela agora mais um dos casos que vão parar no jornal das oito. Seria invadida, seria ferida, escancarada, do jeito que se faz com bicho de sacrifício para a janta. Sairia ferida e fortemente abraçada. Já pensava se ficaria apaixonada ou se passaria o resto de seus dias dentro de seu quarto entre choros, risos e desenhos estranhos, com flores negras que a professora dizia não haver. Na sua intimidade preferia ficar apaixonada, já que seria mais confortável ao seu ego. Ou não. Chegaram numa casa estranha, corpulenta e desmanchosa, com janelas imóveis, fechadas e uma porta que abriria de improviso. Ele a pediu que saísse do carro com calma e não tentasse correr, uma vez que isso só pioraria as coisas, papo típico de estuprador de carterinha. Ao sair do carro ela sorriu, sem que ele percebesse. Poderia ser até bom. Sentiria o vigor de alguém já experiente. Quando ele saiu do carro retomou sua aparência assustada. Pegou-a pelo braço com alguma força. Ela abraçou sua mochila mais fortemente. Estavam dentro da casa. Confirmava todas suas impressões: a casa era suja, velha e caía aos pedaços. Atrás das janelas havia algumas tábuas que impediam que as janelas se movessem. Foi jogada no colchão que havia no chão e fechou os olhos. O medo a fazia tremer e a ânsia fazia suar. Sua blusa foi rasgada e a mochila atirada contra a parede, que não se quedava muito longe dela. Ele então a agarrou com força e colocou ao lado do colchão seus pertences. Estava a invadindo. Com força. Seus olhos expulsavam algumas lágrimas, mas não podia gritar, apesar de ser essa a vontade. Sua boca estava tapada com uma das mãos do homem, que parecia cada vez maior e maior. Começaria então a rasgá-la. E rasgava sangrando, com uma cara de ódio e prazer de mãos dadas. Ela somente assistia, sem reação, sem potência. Parecia economizar forças para ficar viva ao fim daquilo tudo. Ele gozava, e ria, e fazia cara quem está quase chegando onde quer. E chegou. Ao acabar, esmurrou a menina que caiu junto de sua mochila, lenta, vagarosa como um réptil. Era um réptil. Ela então se abraçava à mochila, enquanto era alertada para que não tentasse fugir pelo mesmo motivo de outrora. O homem suava feito cavalo e quase ressonava, como um urso. De dentro de sua mochila saía um punhal prateado e leçado por serpentes, que logo atravessou o abdômem dele, e subia numa vertical perfeita, quase anatômica. Agora as faces se invertiam. A cara de gozo era dela, e ele assistia a tudo, estático. Ele era réptil agora.Tentaria gemer, mas preferiu não o fazer, já que sua boca estava tapada pela mão da menina. Ela então deu-lhe um beijo na testa e desejou boa noite, limpou-se e limpou sua adaga, levantou-se pôs-se a andar para casa, só e tranqüila, qual preguiça. Andaria até sua casa. Andaria.

Metaliguagem #7 - A Possessão e o Destino

Seria uma flor dona de todo um jardim?
Seria uma só joaninha dona da flor mais bela?
Seria um passarinho dono das penas mais azuis?
E eu? Seria eu dono de algo?
Seria eu notório dentro de uma imensidão?
Seria eu destaque por uma rima ou um verso?

Que hei de ser não sei,
Mas o serei fazendo versos.

sábado, 15 de novembro de 2008

Teste Vocacional

Quero estar perto do fogo,
E colocar minhas mãos nele,
E se preciso,
Me queimar de novo.

Quero correr na chuva
De tempestade,
E escorregar no chão molhado.

Quero estar no olho do furacão
E olhar a paz por dentro dele,
E me congelar depois,
E estourar sozinho.

Quero ser o ratinho que recebe injeções,
Quero estar na linha do trem, deitado,
Quero jogar pedra na cruz,
Só pra ver como a gente fica depois.

Epitáfio

Queria ter dado na cara do feio,
Queria ter jogado mais pelada,
Queria ter ido pra chuva,
Ter caído na água,
Ter roubado mais doce,
Ter gritado com os outros...

É porque queria tento
Que estou de cá agora.

O Homem e a Chuva

Andava na rua. Sozinho. Lembrava-se das coisas que deixara na esquina de casa, das coisas que lhe haviam passado pelo rosto com o vento de cinco da tarde. Era um passo ritmado, desse que dá pra contar quantos foram num segundo, e oscilava entre a rua e a calçada, formando um zigue-zague. Aí o homem começou a chover. Era chuva de água fresca que o limpava. Por dentro, por fora. E então sentou-se no meio-fio e começou a olhar. Enquanto olhava, sua roupa se molhava com a chuva e acabava grundando no corpo. Então tornava-se exposto: ao tempo, à chuva, a si mesmo... Era ele e seu corpo contra toda a natureza urbana. Pensava nas lógicas da vida, nos cabimentos das coisas... E se quadava sentado, olhando a chuva cair dele. Era ele quem chovia, era dele aquela água toda. Então se perguntava: que será a chuva? Não sabia. Sabia ao certo o caminho de volta para casa. E caminhava de volta, sob o vento a chuva, e sob o tédio e sob si mesmo, mas voltava completo.

O Outro

O outro me desgusta.
Me come a carne,
Me lambe o dorso,
Me corta a cara.

Dou-me a outro
Que vira eu
Que acabo sendo o outro mesmo.

Por fim, somos dois:
Eu e o outro,
Um só(zinho).

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Palhaçada

Estampa na cara um sorriso
E cheira uma flor nefasta,
Pierrot.

Limpa tua lágrima
E corre estrada afora
Que ao fim te espera Colombina.

Cambalhota, pois,
Que este é o pulo derradeiro:
Te'spera ao fim da rua o fim do dia.

Então a fantasia s'esvai no vento
E faz do outrora palhaço
Carpinteiro.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

O Homem e o Engasgo

Era um homem bacana. Confesso que às vezes até bonito era. Mas o mais legal era o saber conversar dele, que sempre distraía todo mundo, sempre atraía todo mundo. O tipo da conversa que parece não ter fim, que sempre tem novidade mesmo em papo repetido. Conversava sobre os gregos e sobre futebol. Filosofava, às vezes, bonito que só. Mas um dia ele ficou calado. Alguma coisa agarrou na garganta dele e o fez ficar sério. Aquele homem bacana d'outrora, eu o via meio verde, mas não um verde de quem passa mal, era um verde meio funesto; funesto e colorido em vários tons. E a coisa ficava prendendo ele, não deixava respirar, nem falar nem chorar. Só prendia. Ele apertava, fazia pressão pra escapar pelos ouvidos ou poelo nariz, tomava água pra ver se desentalava, mas nada ajudava. Um dia tentou apertar. E funcionou! Mas durou pouco, voltou a entalar-lhe o pescoço aquela coisa. Então apertou mais forte. Mesma coisa. Voltou rápido. Teve então uma idéia magnífica. Usar a corda.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

O Fim do Mundo

Disseram-me que iria se acabar o mundo.
Subi morro e fui ao samba,
Bebi cachaça, dancei na mesa,
Tirei a roupa, gastei dinheiro.
Perdoei gente, xinguei a puta,
Bati no bobo, apanhei do forte.
Passei de doido, gritei pra cristo,
Pequei pra burro e cospi na cruz.

E o mundo não se acabou...

domingo, 2 de novembro de 2008

Fortaleza [3]

Invólucro não-solúvel;
Espirros ácidos;
Olhos vermelhos;
Face aguda;
Choro absoluto.
É fortaleza.

Fortaleza [2]

É Fortaleza. É Fortaleza. É Fortaleza. É Fortaleza. É Fortaleza. É Fortaleza. É Fortaleza. É Fortaleza. É Fortaleza. É Fortaleza. É Fortaleza. É Fortaleza. É Fortaleza. É Fortaleza. É Fortaleza. É Fortaleza. É Fortaleza. É Fortaleza. É Fortaleza. É Fortaleza. É Fortaleza. É Fortaleza. É Fortaleza. É Fortaleza. É Fortaleza. É Fortaleza. É Fortaleza. É Fortaleza. É Fortaleza. É Fortaleza. É Fortaleza. É Fortaleza. É Fortaleza. É Fortaleza. É Fortaleza. É Fortaleza. É Fortaleza. É Fortaleza. É Fortaleza. É Fortaleza. É Fortaleza. É Fortaleza. É Fortaleza. É Fortaleza. É Fortaleza. É Fortaleza. É Fortaleza. É Fortaleza. É Fortaleza. É Fortaleza. É Fortaleza. É Fortaleza. É Fortaleza. É Fortaleza. É Fortaleza. É Fortaleza. É Fortaleza. É Fortaleza. É Fortaleza. É Fortaleza. É Fortaleza. É Fortaleza. É Fortaleza.

sábado, 1 de novembro de 2008

Tristeza

Que nem Chico Buarque apaga,
Que nem carnaval dissolve,
Que nem ódio substitui,
Que nem máscara esconde,
Que nem nada resolve,
Que torna tudo mais sensível
E faz do corpo alvo mais sensível.

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Negações

"A impolidez humana
Retrata toda ignorância
Que assola homo-encéfalos.

Homens rasos
Vestem sapatos sem tacões
E lutam por causas em 180°.

Então se valem de alguns trocados
E compram uma idéia, e são aplaudidos.
Com uma idéia alheia...

Néscios."

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Fortaleza

Segue-se o muro em torno.
Olhares das seteiras procuram por um,
Um que se aproxime.
A casca córnea réptil envolve
E ,morta, vigia à volta.

E o invólucro protege,
Qual broquel,
E cansa, mas não parte.

Envolto na repulsão
Me afasto:
É Fortaleza...

domingo, 26 de outubro de 2008

"parece que eu tô em um sonho ruim, daqueles que a gente se sente sozinho até o fim"

Aí, de repente a gente cai.
Acorda num susto.
Doeu. No coração.
Me disseram que as coisas devem ter seus porquês.
Porque?
Estou tonto.
Meu labirinto se perdeu em si mesmo.

O Hábito e o Trágico

Cozinhava. Enquanto deixava o molho esquentar um pouco dava um susto nas cebolas, pra não corar demais. O cheiro estava instigante; usava um pouco a mais de louro e manjericão naquele dia. O arroz estava quase pronto, faltando para este só mais um pouco de fogo, que viria em breve, quando o molho do macarrão estivesse quase pronto. Cortava a couve em fios bem fininhos. Sua filha gostava assim. Opa! Queimou o dedo. Mas foi só a pontonha, era só colocar na água que aliviava bastante e pronto. Foi à dispensa procurar o óleo. No meio da sua procura achou várias coisas, até algumas caixas com coisas antigas: fotos, cartas e um monte de papéis avulsos. No meio da bagunça achou chumbinho e, com ele na sua mão, pegou a lata de óleo e correu para a cozinha, que ainda havia de fritar os bifes. Naquele dia o almoço seria ótimo; uma delícia. Ao colocar óleo na panela quente, viu o óleo brilhando e se lembrou das brincadeiras de menina, com as misturas na panela da mãe que sempre tinham cores bacanas. Nem exitou: jogou um pouco de chumbinho na frigideira e começou a rodar. Era lindo; o óleo sobre o tom metáliuco fazia brilhar toda a panela. Quase mágica. Mas voltou a ser adulta: colocou o bife de sua filha na panela, fritou, e a deu de comer. "Adultos são insuportáveis", pensou a filha.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Monólogo Pré-adolescente - sobre tudo

Porque o sol nasce amanhã de novo?
Porque as pessoas tem nome?
Porque a gente ri para cumprimentar?
Porque a fala uma coisa e quer falar outra?

(Resposta adulta:)

Porque você não cala a boca?

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Pretérito

Era, era, Eras.
Eras mitológicas,
Minotauros em Quimeras,
E Quimeras eram aquelas?
Que eras eram aquelas?
Sabe-se ao certo que se foi;
Era.

Solidão Enorme

Solidão enorme,
Sorri tão enorme,
Só, ri tão enorme,
Só, ri, são, é nome.
Sorisão em mim.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

A moça do Pão e o Pão da Moça

Era uma mocinha.
Que vendia pão.
Ela tinha pão
Mas não tinha também.

Era uma palavra difícil,
Era um desses nomes de faculdade.
Não sabia bem,
Mas achava que era
"Alienação do trabalho"
ou "Alinhenação", sabia lá.

Mas o moço do carrão comprava,
A moça da casa de janela grande também,
Até o menino que tinha sapato comprava.
E ela comia os farelos que ficavam no fundo do cesto.

A verdade é que não tinha pão pra moça.
Ela tentou, mas não deu; não foi.

A moça ficou velha e descobriu:
"Alienação." Era assim que falava.

Aprendeu também um coisa bonita;
Era latim.
"Panis et Circences."
Mas não valia pra ela.

A Volta e a Posse

Tentei não desmanchar hoje cedo. Acordei meio mole. Não sabia ao certo o que era aquilo tudo. Talvez alguma gota de saudade de alguma coisa que nem sei, que devo ter perdido na noite passada quando vinha pra casa. As voltas pra casa sempre levam algo consigo, elas são meio possessivas. Uma vez elas levaram uma tal de decência.(Era a época em que muitos políticos andavam em passeatas.) Outra vez elas levaram um amor consigo. Já levaram tanta coisa... levaram tanto que só tenho água e roupa velha. A água tá quase no fim, portanto ela a noite não leva. A noite tem classe; anda bonitona que só; não vai pegar as minhas roupas. Deve ser esse o motivo de eu ter acordado assim hoje. Vou caminhar. Estou indo pra casa.






Assinado: Andarilho Sem Casa

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Transições

Trans-Europe express...
Trans-europe expresso.
Transe, rope, expresso.
Transir, ops, expressive...
Transir o excess.
Transir o ex-press.
Transir o ex-lexical.

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Mágicas Administrativas

Mágica #1

Abrakadabra, Alakazam...
PLIM!

Ué... Cadê o dinheiro da campanha
Contra o analfabetismo?

Haha! Mágica!
Sumiu!

Mágica #2

Abrakadabra, Alakazam...
PLIM!

Ué... Cadê o dinheiro
Pra construir casas populares?

Mágica! Sumiu...

Mágica #3

Abrakadabra, Alakazam...
PLIM!

Meu Deus... Que casa bonita!

Mágica! Apareceu aí...

Mágica #4

Abrakadabra, Alakazam...
PLIM!

Meu Deus... Que carrão!
Mágica! Caiu do céu...


E o povo se contenta com comer café da manhã de graça aos domingos...

sábado, 4 de outubro de 2008

Imensa Highway

"Stop!
Pára!
Olha pr'essa highway.
Por que tá tudo parado?"

Era o fim da Highway.
Era uma bomba atômica que explodia.
Todos sublimavam diante da fissão de duas partículas.

Poesia Inútil - parte 2

POESIA


do Lat. poese <> poíesis, acção de fazer alguma coisa


s. f.,
arte de fazer versos;
os diferentes géneros de composição poética;
conjunto de obras em verso, escritas numa determinada língua ou próprias de uma determinada época, de uma corrente literária, etc. ;

fig.,
inspiração;
estado comovido de alma para comunicar entusiasmo lírico ou épico.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Metalinguagem #6 Binomia eu/poesia

Verso, verbo e verso.
Me faço na escrita,
Apago, reescrevo,
Refaço.
Ao fim, me perfaço num verso só.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Masturbações lingüístico-mentais

Termômetro.
Termo-metro.
Termos-metros.
Temos metros.
Temos metrô.
Temos medo.
Termos Medos.
Medos, Termos.
Meios-termos.
Medos de meios termos.
QUÊ?

terça-feira, 30 de setembro de 2008

Poesia Inútil - parte 1

ESCREVER


do Lat. scribere


v. tr.,
representar por caracteres ou sinais gráficos;
redigir;
grafar;
compor (obra literária);
dirigir carta a;

v. refl.,
corresponder-se;
cartear-se.

[suspiro]

Era fugitiva a lágrima incandescente
Que rolava face abaixo, desesperada.

PUF!

Caía mais uma lágrima no chão.
Eram tão pesadas e transparentes;
Lágrimas de sol e céu vermelho.

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Sabessência

Algo o escapava.
Taparam a boca,
Saía-lhe pelos ouvidos.
Entopiram-lhe os ouvidos,
Escorria-lhe pelo nariz,
Exgugaram-no e enfiaram algodões.
Saía pelo ventre,
Costuraram-no e prenderam ao eterno.
Por fiom, a matéria desprendeu--se do corpo
E desenlaçou-se do páreo limite;
Era a agonia do saber exagerado.

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Stop!

"Stop!
A vida parou..."
Ou foi a gente que pegou a doença da inércia?

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Vê: a carne púrpura ainda não secou.
Ainda há muita poesia lá dentro.
Então corre: vá e sugue tudo que há lá dentro.

E foi assim que se viu, pela primeira vez,

Um homem se matar no espelho.

Epifania #2

Ele saiu para comprar cigarros...
Acho que era o da foto do câncer.

Epifania

Minha mãe pediu que comprasse suspiros, na padaria...
Fiquei na dúvida se trazia de tristeza ou de amor...

Disparidades

Quem era mais feliz?

O menino pobre
Que brincava na terra
Da porta da sua casa,
Ou o menino rico
Que passava num carro bonito
E olhava a cena com cara de nojo?

Put the Blame on Mame

É, Mame...
O que estavas a fazer no aeroporto dia 11?
"Não podes, sozinho, dinamitar a ilha de Manhatan."

Fala Quase Póstuma

"Essa dor é toda nossa, é você quem não a vê..."


"Nuns oitenta e quatro ano que eu tenho eu escuto grito. Tudo é gritos! Ô, Padim Ciço, quandé que eu vô pará d'escutáos grito dos outro? Já nasci co'a partera gritano pra buscá pinga no balaio senão minha mãe num froxava pr'eu nascê. Causo disso qu'eu tenho esses braço magrelo que nem perna de grilo.
Mãe num dava o de comê direito: no começo era leite miséria, desses de sertão meso. Dispois era uns bocado de farinha n'água suja que eles cuzia pra nois. Ave Maria! Cumé que era bão o troço! Pena que era poco, e dava só pera duas mãozada na boca, só. Despois aprendi a cumê parma. Num era bão que nem tropeço, mas dava arrimo pra andá pra baixo no mapa. Mas as poca comida não era os pobremas meso não. Os pobremas era sempre os grito: o homi que matô meu pái pra casá co'a mãe vivia gritano. Era grito pru qualqué razão. Inté no dia que ele deu na cara de minha mãe: batê na cara da mãe dos otro é joga preda na Padruera; é ferreá os pé de Padim Ciço. Meu irmão passô a mão na foice e nois tivemo o que comê por duas semana.
Nois seguia pra baxo no mapa, e ouvia os grito de fuzarca, caladim. Num conseguia intendê por causa de quê que ês mexia co nóis. Nois tamém podia ter carro, era nóis que num queria. E ês tamém, tava tudo impulerado no caminhão, que nem frango de ovo.
Morreu a mãe de veia, os irmão de doença, até o cachorro magricela morreu. Ficô só eu, sozim. mas ainda descia o mapa. tava já num Jenquintinhonha, que peguei uns balaio pra vendê no sutento. Daí mprá chegá na Sã Polo foi mais fácil: ao menos água já tinha.
Rumei trabáio. É era até bunito. Era eu que dexava a praça verdinha e catava os lixo todo, aí passava os home galantoso, todo pomnposo da vida e falava assim: "tome esses trocados, que quem batalha chega onde quer" bonito de dá dó. Ô, quem dera fosse verdade. Com dois mês veio os home de farda gritá comigo; causo de quê a mpraça num é lugá de mindingo fedorento. Och, gente, nunca apenhei tanto. Mi bicudaru até na cara, me cortaro de navaia quante, me cacetaro até, no lombo, até jogaro água quente. Me chamaro de cachorro, cabeçudo, magricela, tripa seca. Dero tiro na perna, quand'intendi cuso de quê que os menino gritava co eles: eles não era home de Deus; eles queria só feijão co'arroz. Dexa eles vê! Padim Ciço há de vingá essas bofetada. Cê vão tudo pro inferno, seu excumungado! Quas'qu'eu morri. Foi três semana na porta da paróquia, cos padre cuidano d'eu, escondido. Eles falava pr'a eu perdoá, que Deus deixava eu vivê, de novo.
Cabô os puliça que bate ne nois. Mas cuntinuei apanhano. Apareceu un menino-moleque-da-vida, filho dos home importante e mi bicudaro todo de novo, que nem os gritadô co'as farda. Mas eu perduei de novo, pra tentá vivê.
Os desaforo da vida continua,meus fi. Só num quer4o aceitá um: esses vagabundo vir gritá na minha oreia bem na hora que eu tô morreno? Padim Ciço que me perdoa, mais ocês vão tudo pro inferno, seus fio-da-puta! Tem mais de cinco ano que eu tô aqui, nesse papelão no canto da rua, passa home pomposo, muié formosa, carro, caminhão... passa atré uns avião que nem aurubu, lá no arto... Ninguém... quase conversa co'eu. Quand'eu peço hora, ês m,e joga umas moeda e faz sinal da cruz. Mas num fala um "bão dia"... Justo na hora que eu tô morreno ocês veêm gritá do meu lado... num... perdôo... quero morrê em paz... Sem ouvi gritaria. Shhhhh! Faiz silêncio! Daqui a poco, quand'eu morrê, cêis mo joga na praia? Bota 'neu aquelas frô branca, ingual de rico? Si fizé funeral, cês me lava?
Ói só: o ar tá fartano, que nem água ne poço de sertão. Só quero um terço, pra subi com Padim Ciço. Fala pro hojme da farda pra cuidá mais dos fio deles. Fala pros menino-moleque-da-vida pra dá um poco de dinheiro pros mindingos. Pede pra benzê meu corpo na hora de eu subi. E me faz só mais um favô: pede pro político do sorrisão um minutim sem gritá, só pra eu terminá de morrê. Qiuero silêncio, só de um minutim. Jesus abençôa ocês que fica..."

Claustrofonia Vital

Dédalos multicoloridos,
Sinfonias epifânicas,
Gravidade,
Frios tênues,
E um estalo na línguia e choro:
Nacia uma criança.
Era bonito e pesado o menino.
Pena que s'enrolava
Num tubo qualquer de vida,
E o ápice de sua vida
Durava não mais que dois minutos.

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Espirais

Me sinto dentro de algo que gira e sobe.
Rodo e me planto por sobre o ar
E caio num repente que s'esvai
N'outra subida repentina e tonta.

domingo, 21 de setembro de 2008

Desrenascimento

É assim que funciona:

Tem hora que a gente reverte o rumo das coisas
Só pra ver como elas seriam de trás pra frente.

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Inspirado em Reverse Ilário

Espetinho de Coração

O colo da moça insiste em ser quente.
E com sua temperatura pre-aqueço meu coração.
E num afago mais forte ouve-se:
Piii! Piii! Piiiiiiiiiii!
Pronto! A comida está pronta.

Sobre o Amanhã

-Ei! Desamarra minhas mãos?

-Não posso. Estás preso pra sempre.


"Foi aí que me lembrei que tinha um gêmeo siamês. Destino."

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Teocrença

Não creio em Deus,
Mas ainda vou à Igreja
Com medo do inferno.

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Deslugarização

O homem era mau-encarado.
Veio uma moça e o desencarou.
Logo, ele desexistiu de amor.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Dediprosa #3

Ainda não discordo
Da Língua, mas é como
Se ela ainda comesse
Minhas entranhas.

Dediprosa #2

E o fato fez-se fera
E a Fera fez-se fonte
E a Fonte fez-se ponte
E a ponte caiu, é fato.

Dediprosa #1

À boca que cala,
Ao calo que cola,
Ao colo que queda,
E a queda que cala...

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Pirintemps

Ceda ao elo de matéria
Que te grita, por dentro,
E te arrebata ao céu
Numa explosão
De euforia.
Esconda a infelicidade
E te ria qual palhaço
Que dinheiro ganha de sua ilusão.

domingo, 14 de setembro de 2008

Dédalos Encefálicos

Era um tempo difícil. Os meninos de Hitler já tinham armas nas mãos aos quatorze anos. Eram cruéis, e gostavam disso. Sabiam que o sangue judeu era de bom gosto, mas não lho podiam engolir, que ele era sujo como coca-cola, então bebiam o sangue tinto de vinho, comungavam a vitória, comiam o pão da carne judia e depois o cospiam, num ato puto e santo.
Era um tempo difícil. O exército francês precisava de soldados e o contratou, mesmo sabendo que havia perdido seus dois filhos e estava quase louco. Sabia que morreria em um mês, então resolveu ir pra guerra, que assim ao menos se vingaria da morte de seus filhinhos. Cortara-se com ferro quente. Fizera uma cruz no peito, pra fazer justiça aos que mataram por nada.
O menino foi jogado num navio e recebeu uma arma. O homem foi jogado num navio e recebeu uma arma.
O homem era extremamente violento. Certa vez encontrou dois alemães. Torturou-os por cinco dias, e só parou porque os “Bigodinhos” não agüentavam mais. Lembrara-se de seus filhos. Arrancava-lhes os nervos das pernas. Com as mãos.
O menino era extremamente violento. Apesar de só ter tido a oportunidade de matar vinte e cinco “fedorentos” num fuzilamento. Seus braços eram não muito mais grossos que o cano da arma. O furor lhe escapava dos olhos. Em seu tórax, havia cortes em ferro quente: “TOD”, estava escrito em letras garrafais e fundas.
Houve um combate.
Um navio naufragou.
Outro navio naufragou.
Um soldado francês estava num bote.
Um menino estava se afogando. A arma era pesada e puxava Frederich para baixo d’água. Seu corpo débil não resistia à falta de ar. Logo a arma, sua única amiga e fiel escudeira o estava traindo. Nunca havia sentido tão fortemente o gosto do sal, era a glória salgada da morte na guerra lhe penetrando as artérias. Jacques olhava o menino se afogar, rindo. Pensava até em puxá-lo para fora d’água, mas o jogaria de novo, afinal, a diversão era grande. O menino finalmente conseguiu se aproximar do bote e nele se apoiar para tomar fôlego. Bastou o vigoroso francês tocá-lo com o remo para que ele tornasse a sua posição original salgando novamente sua boca, dando mais e mais diversão ao gozo de Jacques.
O moleque se contorcia na água, fazendo o possível para trazer algo que não fosse água e sal aos pulmões. O francês, olhando-o, notou que por mais frágil e fraco que fosse ainda lhe sobravam algumas carnes pelo corpo. Nisso, lembrou-se que precisava comer algo e que a praia estava distante; não agüentaria remar sozinho até seu destino. Estava decidido: teria de tirar o menino d’água por questões de sobrevivência, não por pena ou qualquer outra bobeira dessas que se ensinam na igreja, afinal, era um alemão.
Frederich não acreditava que havia sido salvo por um francês fedorento. Logo ele, que em hipótese alguma salvaria um idiota do exército inimigo. Não entendia o porquê de ter sido salvo. Mas estava grato, e remava enquanto Jacques descansava um pouco. Sentia o cheiro do francês, sentia ódio e alegria, ânsia de vômito e bem-estar.
Jacques, em seu descanso, lembrava-se de seus filhos. Lembrava-se deles, mas não conseguia ver seus rostos. Via vultos e borrões, via o rosto de Frederich no lugar do de seus filhos. O ódio lhe ferveu as artérias. Esquentava-lhe a cabeça o fato de uma alemão sujo estar no lugar de seus filhos. Avançou sobre o nojento e começou a esganá-lo, com o prazer da vingança, rindo enquanto via sangue escorrer das narinas do moleque, cujo pescoço fino era de fácil de quebrar, era quase tão prazeroso como matar um frango para saboreá-lo na janta farta.
O menino olhava assustado para a face francesa que o matava, devagar. Pensava no motivo para tal execução e não o encontrava. Mas continuava olhando fixamente para a cara do homem que havia salvado sua vida e agora estava o matava. Num repente, notou que o rosto do francês nojento estava mudando. Havia um traço aqui outro acolá do rosto de seu pai. Lembrou-se, então, do momento em que assistia a morte de sua mãe, pelas mãos do próprio pai. Então juntou sua pouca força com seu muito ódio e fez um corte no braço de seu pai, que logo se desfigurou e voltou a ser o francês, gritando a dor de ter sido perfurado no músculo do braço.
Jacques gritava. Xingava Frederich, que não entendia o que ouvia, mas sabia que estava sendo xingado. Arrependeu-se de ter cortado o braço do francês, e improvisou um curativo com um retalho de sua farda. Jacques sentiu que, pela primeira vez, após a morte de seus filhos, alguém se preocupava com ele. Sentiu nas mãos feridas do alemão outrora nojento, uma carícia que há muito não sentia, sentiu as mãos de seu filho o tocando. Frederich acabou o curativo, e pôs-se a remar, até a exaustão. Após horas de remo, não agüentava levantar os braços. Estava frio, estava fraco, sentia fome. Jacques tremia de frio, dormindo. Frederich tremia de frio e então se deitou ao lado de Jacques e abraçou-o para acabar o frio. Dormiram ali, como pai e filho pela primeira vez, na paz da guerra.
O sol caía em placa sobre os corpos dos soldados. Acordaram simultaneamente e perceberam que estavam próximos do litoral. Havia gaivotas no ar. Puseram-se a remar, mesmo com toda a fome e exaustão. Viram o litoral em pouco tempo, era uma praia; deserta e calma, não havia guerra, luta, nada. Também não havia paz, alegria. Não havia nada. Mas remavam rumo ao litoral, esperançosos. Finalmente estariam em terra firme. Não acreditavam poder botar os pés no chão, sem guerra, sem morte, sem ódio. Estavam finalmente a salvo de armas e guerras. Abraçaram-se, fortemente. Jacques sentia no calor do corpo de seu filho toda a paz que poderia sentir e o apertava cada vez mais e mais. Frederich sentia-se sufocado. Jacques apertava mais, abraçava firme o pescoço do garoto. Frederich via seu pai tentando o matar, assim como fizera com sua mãe, sentia ódio, mas não podia se mexer. Podia somente olhar o rosto de seu pai. Era tão dócil, tão calmo, tão bruto. Sentia todo o ódio que guardara para a guerra. Roubava-lhe o oxigênio com um abraço, apenas. Jacques via o corpo frágil de seu filho se contorcendo em seu seio, mas permanecia apertando. Frederich sentia ódio, tentava se livrar do abraço mortal do amor.
Pungiu-lhe a costela.
O amor matava duas pessoas, deveria ser este o motivo da guerra.
Alemães e franceses se amavam.
Encontravam-se dois corpos à beira-mar: pai e filho, mortos, por amor.

sábado, 13 de setembro de 2008

Dissoluções Folosóficas

Noite azul e escura...
Sentados num chão qualquer
Olham temas dissolutos
Nas pontas dos cigarros.
O branco que sai das narinas
Já não é fumaça,
É o resultado da filosofia
Natural e célebre dos fumantes
Que chegam a uma conclusão:
A alma é feita para morrer;
A alma está morta;
A gente vive para a morte...

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Rosa Toxicada

"A Rosa despedaçada,
O cravo pôs-se a chorar..."
Rosa definhada;
Consumiu-se em pedra e areia,
Vento e Terra
E tornou-se Pó,
Que do Pó que veio
E haveria de um dia retornar.

Nos meandros derradeiros
Os sinos tocam
E embalam a sina dessa Rosa,
Que ficou doente,
E, pouco a pouco definhou,
E recriou o mundo à sua maneira,
E se refez em pó;
Absoluto, Trépido, Obsoleto.

domingo, 7 de setembro de 2008

Vagações Etéreas

E o etéreo me suga,
Pelo braço,
E me leva, longe.

E me perco, parco,
Na imensidão da noite
E esbarro na Ursa Maior.

Num resvalo de luz
Caio ao chão; acordo.
E vivo tudo de novo, vivo.

Viajem à Quimera

Cansei meus braços
Escalando o Monte de Quimera.

Nenhum guerreiro
Trouxe, em seus braços,
Marcas mais fundas
Que as do Monte de Quimera.

Meus braços agora são fracos
Perderam força na subida,
Sem lembrar que a Quimera é alta,
Que um dia teria que descer.

Mas de Quimera trouxe comigo
Toda raça de fé que haveria de ter.
Trouxe comigo
Toda taça de vinho que deixei de beber.
Em função de Quimera, perdi um "quem dera".

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Loucura Técnica

As coisas se quedavam presas numa mistura homogênea de ácidos fortes. Tudo se esquentava e aumentava a pressão, numa PG de razão irracional. Quase explodia...

De repente, a freqüência das colisões se tornou muito grande. O calor calefou toda calma que existia e explodiu tudo num grito de 700 Hertz.

Então pus na minha frente um espelho que ampliasse a dimensão das coisas; pus uma fantasia e fui viver no palácio de rei, de bobo da corte.

Manifesto ao Silêncio


Cala-te.
Que a poesia quer abrir a boca.
Silenciem o mundo
Quando a poesia começar a falar
Que todas as criaturas devem ouvi-la,
E descobrirão o derradeiro grito da alma.

domingo, 31 de agosto de 2008

Concessão da alma

Minh'alma saiu do corpo.
Tem agora vida própria
E erra, solta,
Qu'ela é, agora
Livre de meu corpo sujo.

Minh'alma é, agora
Leve e compassiva,
Então a podes ver
E tomá-la para ti,
Caso lhe seja de desejo.

Vê como minhas mãos putrefam,
Vê o bloco de gelo nos olhos,
Ouve a monotonia cardíaca,
Ouve a fraqueza desta voz.
Houve tudo, e minh'alma foi-s'embora.

Leva-a contigo.
Alimenta-a,
Qu'ela agora é tua,
E há de tomar teus frutos,
E alimentá-los, como meus.

Redentor

E o destino vem, sóbrio e colorido.
Senta-se ao lado, abre seu jornal,
Sem pressa.
Cumprimenta; dá bom-dia
E punge teu tórax
E rasga-te como porco a mais
De sua criação.

Passou-se vida toda a cuidar de margarida
E margarida foi pisada e cospida.

Mas permaneço de pé.
Permaneço tonto, atento
Pra qualquer hora dessas
Ter um vira-jogo.

E a ganância é tanta,
Mas a ganância é tanta
Que mesmo que me dilaceracem,
Mesmo que me amordaçassem,
Continuaria de braços abertos
À espera de mais tiros...

domingo, 24 de agosto de 2008

Desmateriação ansiosa

Quero me acabar
Em pétalas azuis
E renascer
Na rosa púrpura do jardim.

Quero me esconder
Por entre a relva
E gladiar
Com os pássaros no ar.

Quero morrer todos os dias
E acordar sozinho,
Depois ir à cozinha tomar café
E me acercar de todo mundo.

De tudo que eu quero
Só me resta um pedido,
único e fatal:
Não quero mais nada.

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Diálogo Infantil: Sobre o Crescer das Pessoas

- Irmão, vamos ali no quarto. A Fera tá só esperando a gente chegar e derrotá-la.
- Que Fera? Desconheço tal ser.
- Irmão! A Fera que a gente tava lutando contra ela ontem. Lembra não?
- Não me lembro de ter lutado contra ser algum ontem...
- Porque que você tá com essa cara séria? Cadê aquele sorrisão bonitão que ficava na sua cara?
- É irmão... O sorriso acabou. Infelizmente eu cresci, e agora não entendo mais nada do que você fala. Meu mundo não é igual ao seu. Não há monstros, nem fadas, nem estórias quaisquer que possam fazer de mim um príncipe ou um cavaleiro corajoso. Agora tudo aquilo de bonito que a gente construía perdeu seu lugar para um monte de números, e o nome que o Rei daquele reino muito distante foi trocado pelo número do meu CPF. Eu virei um número. Desculpa, Irmão.
- (choro)
- Não chora, Irmão. Vai acontecer contigo também...
- Quando eu crescer a gente brinca de número, então...

domingo, 17 de agosto de 2008

Metalinguagem #5 - O Ocorrer das Coisas

Vai, poeta...
Junta aquilo que te aflige
E cospe tudo num poema!

Grita ao som amarelado
Da palavra tudo aquilo que te doi
Depois engole, e regurgita em poesia.

Faz de tua letra, música,
E de tua música
A sublimação do defunto da vida.

Transorma tua folia em tua fonia,
E faz dela o grito que ninguém ouve,
E ouça só tu a tua poesia, enfim.

Parte-sino

E, do dia em que se partir em diante,
Há de ser refeita toda aquela soberbia
Que o levara ao tédio antes de se partir.

Vá-te, criança pequena,
Corre campo verde
Antes que o verde enegreça.

Pega lírio e cheira,
E se ria, contente da vida,
Qu'ela é pouca e corre.

E, do dia em que se partir em diante,
Há de se perfazer, ao longe,
Toda a euforia que havia naquela menina...

sábado, 16 de agosto de 2008

Cielo Tempo

Galga-se na escada
Que leva à glória
E, de lá, toma-se um tombo
Leve, e cai ao chão, de cara.

Que será que é?
Pintura, gravura, retrato?
Que será que é que mostra
Esse episódio calado da vida?

Quem sabe o não saber
Seja o mais sábio
Dos saberes
Por agora?

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Plumpt!

É sobremesa antes do almoço;
É ver de novo, ver TV colosso;
É euforia
É alegria, ria.

Amanhã que nem é dia
Minha sina é de pirar
Revolvendo vivas voltas,
Vivo, vou vendo avivar.

Amanhã que nem é dia
Nem é dia de gritar,
Já desperto na euforia
Da alforria de chorar.

É sobremesa antes do almoço;
É ver de novo, ver TV colosso;
É euforia
É alegria, ria.

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Dez pedidos

Soltava a cabeça
E a deixava pirar sozinha.
Corria lá no monte,
Naquele monte de coisa
Que a gente poderia ter feito,
Ter feito se o tempo não fosse maldito
E se pusesse a maldizer o nosso tempo.

E lhe deram tempo, bem pouco tempo
Para que fizesse tudo aquilo
Que não lhe cabia na cabeça
Porque era pesado demais,
Porque era insípido, inodoro e incolor.
Não era água... era dor.
Era a dor de ter vivido tanto em pouco tempo.
Era a dor de ter vivido tempo em tão pouco tanto.

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Detesto dizer isso: Adeus, Moleque.

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Mãe Joana

Há de ser parida
A dona do fado humano,
Que fora deciso e próprio
Do ser que chora atônito.

Há de ser remida
E presa num lugar distante,
Se fazendo sóbria
De sua missão.

Há de quebrar corrente
E fazer rebelia
Contra todo aquele
Que lhe queira em peleia.

Há de querer gritar
Na bioca alheia
E fazer do grito
Bala, faca e guerra.

E há de ser torturada
E morta como infiel
Que ousa abrir a boca
Contra aquele que manda mais.

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Ânsia-tórax

E te queda
"Garota e seminua"
No meu verso
Qu'ele é feito a ti.

E corre a seda
Leve e solta em teu corpo,
Que lhe dá a forma exata
Ao desejo forte.

Canela, cravo, violino.

New york, New york

É tudo o que quero ser. Quero ser o que ninguém quer. Quero fazer tudo aquilo que todo mundo despreza, que todo mundo não quer fazer. Posso Até ganhar dinheiro assim, não posso?

Quero ser o idiota do monobloco. Aquele que no fim da festa ainda está cantando sem parar, que ainda sorri, sem o menor receio de ser chamado de idiota, apesar de ser somente isso: idiota. Ser idiota é o que há. É o que há de mais satisfatório na vida, uma vez que sendo idiota assumido, o merecedor de tal apelido não ficaria chateado e continuaria vivendo numa boa ao ser zombado. Ele ainda iria cantar as músicas nos fins das festas, ainda iria rir como só um idiota sabe fazer, ainda iria comer pão com salame na frente de todo mundo achando uma delícia, iria dançar na chuva, iria falar bobeira na frente de todo mundo, enfim, continuaria feliz. Já o zombador(idiota esse, pejorativamente falando) não iria se contentar, e iria continuar a lhe dirigir ofensas e mais ofensas até perceber que nada disso adianta. "É como disse na música: quero é ser ninguém na multidão."

E assim, a gente vai descobrindo que nem sempre na vida tropeço é caminho, nem sempre na vida máscara é de fantasia, e nem sempre na vida amor e ódio andam juntos.
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Ps: E sim, o idiota sou eu mesmo!

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Monovalsa

O abandono monocolorido
Cerra tempo insolúvel
Na ardência calma
Da ânsia de vida.

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Diálogo infantil: sobre a morte


- (Snif, snif!)
- Que foi?

- A Lila morreu...
- (Silêncio, seguido de um riso de canto de boca)
- Pára de rir, seu mamão!

- Irmão, olha só... lembra quando a Lila teve filhotinhos?
- Lembro...

- Lembra que tinha o Stulk, a Kika, e o Baco? E lembra que o Baco morreu?

- Lembro...
- Então, quando o Baco morreu a Lila chorou também... mas ela ainda tinha dois filhotinhos.
- Que que tem isso? Eu não tenho filhotinhos.

- Mas ainda tem o Stulk e a Kika aqui em casa.
- A Lila esperou a gente enterrar o Baco e foi cuidar dos outros dois... a gente tem que chorar sim, mas a gente tem que chorar de alegria também, a Lila tava velha... teve uma vez que ela me contou que queria 'ir dormir'...

- Ela tá feliz?

- Tá sim!

- Então tá... vou parar de chorar daqui a pouquinho tá?
- Tá bom... olha, eu vou te deixar aqui no quarto, pra você terminar o choro. Volto daqui a pouco, tá?
- Tá bom... Irmão!
- Oi?

- Eu te amo, viu?

- Eu também, irmão.

- Pode chorar no seu travesseiro?

- Pode... mas se você babar nele eu te bato.

Diálogo infantil: sobre os irmãozinhos


- Irmão... quer ter mais um irmãozinho?
- Hum... não sei... mas, e se eu quiser, e daí?
- E daí que a gente pode ter um irmão facim, facim...
- Pode?
- Pode...
- Então arranja um irmão aí.
- Não! Nâo é assim também, né, ou... A gente tem quefazer a encomenda, ou ´plantar ele no quintal, ou ir lá no céu...
- Hãn?
- É... é assim: a gente pode ter um monte de irmão diferente, e pra nascer de cada jeito, a gente faz ele de um jeito diferente.
- Ah... aí se eu quiser ter um irmão que gosta de animal eu peço pra cegonha?
- Isso!
- Nossa, que bonito isso...
- Então vou plantar um irmãozinho lá na horta.
- Porque?
- Porque ele vai saber mexer com comida... aí ele vai dar comida pra todo mundo que não tem, e vai ficar todo mundo feliz... igual quando a gente ganha ovo grandão na páscoa.
- Ah... então tá... vamos lá pedir a sementinha 'praquela' moça que vende verdura... CORREEEEE!!!

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Suvenir

Pele; tua boca enroscada, nua.
Corpo; nua pele recatada a tua.
Fado impróprio, assisto a ti, calado,
Assisto a ti, Pierrot apaixonado.

Teu colo, olor intacto, Jasmim.
O olho teu, fosfóreo Vitral em mim,
Que me olha, na cara, tão perspicaz
Interrompe roleta-russa em paz.

A ti não descreveria com seleta
D'outro autor que possa a ti vestir,
Ou Um, que viu alma melhor, mais qu'esta.

Dei minh'alma, podes me ferir.
Fixa, de ti não há cópia quieta,
Que Tu és Corpo e Alma; Suvenir.

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Miss.

Aperto/EU-----------------------------------------Desaperto.
Aperto/EU-------------------------------Desaperto.
E parto EU-------------Desaperto.
E parto EU ao Desaperto.
Desaperto EU ao parto.
Desaperto e parto EU.
Desaperto e EU.
Dez apertos e EU.
Aperto-------------------------------------EU.

E fica tudo apertado de novo...

domingo, 27 de julho de 2008

Diálogo infantil: sobre a saudade


- Ai, Irmão...
- Que foi, Irmão?
- Eu tô com saudade...
- Calma, Irmão. Vai passar... Mas... O que que é saudade mesmo?
- Saudade... ah, saudade é um aperto que o coração dá nele mesmo pra avisar que precisa de alguém que está longe. Quando a gente sente saudade, a gente fica com vontade de inventar um ônibus que vai num lugar bem longe só pra poder viajar um tantão e ver o que faz falta. Saudade é quando a gente vai dormir e sente saudade do abraço, é quando a gente fica toda hora pensando numa coisa que a gente queria estar perto... Enfim, saudade é quando a gentre quer uma coisa que tá longe.
- Hummmmm... que saudade de comer bombom!

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Até Que Amor[te] Os Separe

Ânsias escondidas
Por detrás de vestidos brancos
Gritam alto a carne rubra
Por detrás dos vestidos brancos.

O terno negro espera
Sagaz e típico de sua cara,
E, em silêncio
Chama a alvura para perto de si.

Aquele vestido branco se jogou.
Se sujou com o rubor da carne
E, enfim não foi usado.

"Corrompeste a decência humana,
Não és digna de meu epíteto."

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Reflexos-devaneio

Lembra do redemoinho
Alvo que te amanhecera
Na cabeça
Antes de levantar?

Lembra daquele vento frio
Que antes de te ninar
Passara turbilhão
Ao norte da montanha?

Lembra daquela água
Em que te refrescara
Antes de se tornar enchente
À porta de minha casa?

E daquela niña preta
Que te servira antes de morrer?
Lembra-te?

Eu sou a niña preta,
E sou o moleque que
Desfaleceu na sua cahoeira,
E sou a árvore que caiu
Coma força de teu vento.

Esmola


Pulsos cortados,
Rosto dilacerado,
Unhas quebradas.
A imagem choca.

Resvala-se um pouco de dó.
Esquece-se da verdade
E doa-se alguns trocados.
A facilidade hipócrita
Encerra a vida alheia,
Um pouco mais rica,
Vinte e cinco centavos,
Precisamente.

Tempos modernos

Fez-se noite na lucidez
Da cabeça clara do homem.
Esqueceu-se que alguém disse
"Sem amor eu nada seria."
Guilhotinou-se heroínas,
Amordaçou-se tal Platão.
Bombardeou-se a tal caverna.
Por fim, castrou-se mente minha.
Já não penso, não falo nada.
Trabalho, como, bebo, morro.

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Diálogo infantil: Sobre o beijo


- Irmão, ela me deu um beijo hoje.
-Que? Ela te deu um beijo?
-É, ela me deu um beijo.
-E agora? Que que a gente faz?
-Ah, a gente espera.
-Mas conta pra mim, ela te beijou mesmo?
-Sim. Ela que me beijou. De boquinha quente ainda.
- Como que é um beijo?
-Ah, um beijo é um carinho que estala.