sábado, 15 de novembro de 2008

O Homem e a Chuva

Andava na rua. Sozinho. Lembrava-se das coisas que deixara na esquina de casa, das coisas que lhe haviam passado pelo rosto com o vento de cinco da tarde. Era um passo ritmado, desse que dá pra contar quantos foram num segundo, e oscilava entre a rua e a calçada, formando um zigue-zague. Aí o homem começou a chover. Era chuva de água fresca que o limpava. Por dentro, por fora. E então sentou-se no meio-fio e começou a olhar. Enquanto olhava, sua roupa se molhava com a chuva e acabava grundando no corpo. Então tornava-se exposto: ao tempo, à chuva, a si mesmo... Era ele e seu corpo contra toda a natureza urbana. Pensava nas lógicas da vida, nos cabimentos das coisas... E se quadava sentado, olhando a chuva cair dele. Era ele quem chovia, era dele aquela água toda. Então se perguntava: que será a chuva? Não sabia. Sabia ao certo o caminho de volta para casa. E caminhava de volta, sob o vento a chuva, e sob o tédio e sob si mesmo, mas voltava completo.

Nenhum comentário: