Óleo sobre tela; Guache no papel; Fogo sobre vela; Vinho sobre fel. Somos nós água e óleo.
segunda-feira, 17 de novembro de 2008
Superid
Andaria até sua casa. Andaria. Se não fosse o homem gentil que parara o carro e prometera carona. Sabia que corria risco, inclusive se lembrava dos comentários da mãe a respeito dos homens que fazem coisas, e que sempre começam com caronas. Mas preferiu ir. O caminho era curto, e à luz do dia nada lhe aconteceria, além do fato de o homem ser muito gentil e ter no mínimo uns três filhos. Não faria aquilo, não ele. Começou a perguntar sobre seus medos, principalmente sobre os homens que atacam as meninas. Dizia ela que não tinha medo do estupro por si próprio, mas tinha medo da paixão que poderia vir depois, igual em um livro lido. Chegou a comentar alguns psicanalistas que chegaram a explicar e provar por A mais B que após casos de estupro meninas se apaixonavam, ou tinham outros traumas piores. Mas ela estaria livre daquilo, estava sempre precavida. Num gesto inocente, olhava para as pernas dela, juvenis e bem torneadas. Usava uma saia vermelha, puxava para tapar o grande pedaço de coxa que ficava à mostra, apesar de não se importar muito com os olhares do senhor. Seus seios eram quase chamativos, e tinham também grande parte à mostra, pelo decote da camiseta. Sua testa suava, jamais imaginaria aquilo acontecendo consigo. Donde provinha o desejo que lhe aflorava pela pele? Em alguns minutos poderia sentir o cheiro dela mesmo de janelas abertas e no centro da cidade. Estava estático ao volante; seus movimentos era de puro hábito e sua mente se esforçava para não pensar em nada e como fuga perguntava sobre a localização de sua casa. Foram passadas algumas informações a respeito do caminho para sua casa e ele começou a levar-se naquela direção. Desviou o caminho alegando ir comprar cigarros, e de repente já se encontrava num lugar estranho, diria que quase inóspito. Era ela quem suava agora, e segurava forte sua mochila contra o peito, protegendo-a. Seria ela agora mais um dos casos que vão parar no jornal das oito. Seria invadida, seria ferida, escancarada, do jeito que se faz com bicho de sacrifício para a janta. Sairia ferida e fortemente abraçada. Já pensava se ficaria apaixonada ou se passaria o resto de seus dias dentro de seu quarto entre choros, risos e desenhos estranhos, com flores negras que a professora dizia não haver. Na sua intimidade preferia ficar apaixonada, já que seria mais confortável ao seu ego. Ou não. Chegaram numa casa estranha, corpulenta e desmanchosa, com janelas imóveis, fechadas e uma porta que abriria de improviso. Ele a pediu que saísse do carro com calma e não tentasse correr, uma vez que isso só pioraria as coisas, papo típico de estuprador de carterinha. Ao sair do carro ela sorriu, sem que ele percebesse. Poderia ser até bom. Sentiria o vigor de alguém já experiente. Quando ele saiu do carro retomou sua aparência assustada. Pegou-a pelo braço com alguma força. Ela abraçou sua mochila mais fortemente. Estavam dentro da casa. Confirmava todas suas impressões: a casa era suja, velha e caía aos pedaços. Atrás das janelas havia algumas tábuas que impediam que as janelas se movessem. Foi jogada no colchão que havia no chão e fechou os olhos. O medo a fazia tremer e a ânsia fazia suar. Sua blusa foi rasgada e a mochila atirada contra a parede, que não se quedava muito longe dela. Ele então a agarrou com força e colocou ao lado do colchão seus pertences. Estava a invadindo. Com força. Seus olhos expulsavam algumas lágrimas, mas não podia gritar, apesar de ser essa a vontade. Sua boca estava tapada com uma das mãos do homem, que parecia cada vez maior e maior. Começaria então a rasgá-la. E rasgava sangrando, com uma cara de ódio e prazer de mãos dadas. Ela somente assistia, sem reação, sem potência. Parecia economizar forças para ficar viva ao fim daquilo tudo. Ele gozava, e ria, e fazia cara quem está quase chegando onde quer. E chegou. Ao acabar, esmurrou a menina que caiu junto de sua mochila, lenta, vagarosa como um réptil. Era um réptil. Ela então se abraçava à mochila, enquanto era alertada para que não tentasse fugir pelo mesmo motivo de outrora. O homem suava feito cavalo e quase ressonava, como um urso. De dentro de sua mochila saía um punhal prateado e leçado por serpentes, que logo atravessou o abdômem dele, e subia numa vertical perfeita, quase anatômica. Agora as faces se invertiam. A cara de gozo era dela, e ele assistia a tudo, estático. Ele era réptil agora.Tentaria gemer, mas preferiu não o fazer, já que sua boca estava tapada pela mão da menina. Ela então deu-lhe um beijo na testa e desejou boa noite, limpou-se e limpou sua adaga, levantou-se pôs-se a andar para casa, só e tranqüila, qual preguiça. Andaria até sua casa. Andaria.
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6 comentários:
Confesso algum arrependimento. Às vezes saem coisas assim.
meu caro, às vezes existem certas doses de espelho (aquele espelho interior) em teus textos que me faz gelar a espinha. será de propósito?
será... ou já foi.
Você escreve muito bem!
Os detalhes, a descrição perfeita!
Com certeza compraria um livro seu!
Obrigado...
Sabe que estava pensando em ir à uma editora...
mentira.
hehehe...
obrigado, de novo...
Talves esta ideia(sem acento) de ir a uma editora seja boa...rsrsrsrs
Você escreve muito bem Rafa!
Boto fé!!!!
Parabéns
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