terça-feira, 30 de setembro de 2008

Poesia Inútil - parte 1

ESCREVER


do Lat. scribere


v. tr.,
representar por caracteres ou sinais gráficos;
redigir;
grafar;
compor (obra literária);
dirigir carta a;

v. refl.,
corresponder-se;
cartear-se.

[suspiro]

Era fugitiva a lágrima incandescente
Que rolava face abaixo, desesperada.

PUF!

Caía mais uma lágrima no chão.
Eram tão pesadas e transparentes;
Lágrimas de sol e céu vermelho.

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Sabessência

Algo o escapava.
Taparam a boca,
Saía-lhe pelos ouvidos.
Entopiram-lhe os ouvidos,
Escorria-lhe pelo nariz,
Exgugaram-no e enfiaram algodões.
Saía pelo ventre,
Costuraram-no e prenderam ao eterno.
Por fiom, a matéria desprendeu--se do corpo
E desenlaçou-se do páreo limite;
Era a agonia do saber exagerado.

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Stop!

"Stop!
A vida parou..."
Ou foi a gente que pegou a doença da inércia?

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Vê: a carne púrpura ainda não secou.
Ainda há muita poesia lá dentro.
Então corre: vá e sugue tudo que há lá dentro.

E foi assim que se viu, pela primeira vez,

Um homem se matar no espelho.

Epifania #2

Ele saiu para comprar cigarros...
Acho que era o da foto do câncer.

Epifania

Minha mãe pediu que comprasse suspiros, na padaria...
Fiquei na dúvida se trazia de tristeza ou de amor...

Disparidades

Quem era mais feliz?

O menino pobre
Que brincava na terra
Da porta da sua casa,
Ou o menino rico
Que passava num carro bonito
E olhava a cena com cara de nojo?

Put the Blame on Mame

É, Mame...
O que estavas a fazer no aeroporto dia 11?
"Não podes, sozinho, dinamitar a ilha de Manhatan."

Fala Quase Póstuma

"Essa dor é toda nossa, é você quem não a vê..."


"Nuns oitenta e quatro ano que eu tenho eu escuto grito. Tudo é gritos! Ô, Padim Ciço, quandé que eu vô pará d'escutáos grito dos outro? Já nasci co'a partera gritano pra buscá pinga no balaio senão minha mãe num froxava pr'eu nascê. Causo disso qu'eu tenho esses braço magrelo que nem perna de grilo.
Mãe num dava o de comê direito: no começo era leite miséria, desses de sertão meso. Dispois era uns bocado de farinha n'água suja que eles cuzia pra nois. Ave Maria! Cumé que era bão o troço! Pena que era poco, e dava só pera duas mãozada na boca, só. Despois aprendi a cumê parma. Num era bão que nem tropeço, mas dava arrimo pra andá pra baixo no mapa. Mas as poca comida não era os pobremas meso não. Os pobremas era sempre os grito: o homi que matô meu pái pra casá co'a mãe vivia gritano. Era grito pru qualqué razão. Inté no dia que ele deu na cara de minha mãe: batê na cara da mãe dos otro é joga preda na Padruera; é ferreá os pé de Padim Ciço. Meu irmão passô a mão na foice e nois tivemo o que comê por duas semana.
Nois seguia pra baxo no mapa, e ouvia os grito de fuzarca, caladim. Num conseguia intendê por causa de quê que ês mexia co nóis. Nois tamém podia ter carro, era nóis que num queria. E ês tamém, tava tudo impulerado no caminhão, que nem frango de ovo.
Morreu a mãe de veia, os irmão de doença, até o cachorro magricela morreu. Ficô só eu, sozim. mas ainda descia o mapa. tava já num Jenquintinhonha, que peguei uns balaio pra vendê no sutento. Daí mprá chegá na Sã Polo foi mais fácil: ao menos água já tinha.
Rumei trabáio. É era até bunito. Era eu que dexava a praça verdinha e catava os lixo todo, aí passava os home galantoso, todo pomnposo da vida e falava assim: "tome esses trocados, que quem batalha chega onde quer" bonito de dá dó. Ô, quem dera fosse verdade. Com dois mês veio os home de farda gritá comigo; causo de quê a mpraça num é lugá de mindingo fedorento. Och, gente, nunca apenhei tanto. Mi bicudaru até na cara, me cortaro de navaia quante, me cacetaro até, no lombo, até jogaro água quente. Me chamaro de cachorro, cabeçudo, magricela, tripa seca. Dero tiro na perna, quand'intendi cuso de quê que os menino gritava co eles: eles não era home de Deus; eles queria só feijão co'arroz. Dexa eles vê! Padim Ciço há de vingá essas bofetada. Cê vão tudo pro inferno, seu excumungado! Quas'qu'eu morri. Foi três semana na porta da paróquia, cos padre cuidano d'eu, escondido. Eles falava pr'a eu perdoá, que Deus deixava eu vivê, de novo.
Cabô os puliça que bate ne nois. Mas cuntinuei apanhano. Apareceu un menino-moleque-da-vida, filho dos home importante e mi bicudaro todo de novo, que nem os gritadô co'as farda. Mas eu perduei de novo, pra tentá vivê.
Os desaforo da vida continua,meus fi. Só num quer4o aceitá um: esses vagabundo vir gritá na minha oreia bem na hora que eu tô morreno? Padim Ciço que me perdoa, mais ocês vão tudo pro inferno, seus fio-da-puta! Tem mais de cinco ano que eu tô aqui, nesse papelão no canto da rua, passa home pomposo, muié formosa, carro, caminhão... passa atré uns avião que nem aurubu, lá no arto... Ninguém... quase conversa co'eu. Quand'eu peço hora, ês m,e joga umas moeda e faz sinal da cruz. Mas num fala um "bão dia"... Justo na hora que eu tô morreno ocês veêm gritá do meu lado... num... perdôo... quero morrê em paz... Sem ouvi gritaria. Shhhhh! Faiz silêncio! Daqui a poco, quand'eu morrê, cêis mo joga na praia? Bota 'neu aquelas frô branca, ingual de rico? Si fizé funeral, cês me lava?
Ói só: o ar tá fartano, que nem água ne poço de sertão. Só quero um terço, pra subi com Padim Ciço. Fala pro hojme da farda pra cuidá mais dos fio deles. Fala pros menino-moleque-da-vida pra dá um poco de dinheiro pros mindingos. Pede pra benzê meu corpo na hora de eu subi. E me faz só mais um favô: pede pro político do sorrisão um minutim sem gritá, só pra eu terminá de morrê. Qiuero silêncio, só de um minutim. Jesus abençôa ocês que fica..."

Claustrofonia Vital

Dédalos multicoloridos,
Sinfonias epifânicas,
Gravidade,
Frios tênues,
E um estalo na línguia e choro:
Nacia uma criança.
Era bonito e pesado o menino.
Pena que s'enrolava
Num tubo qualquer de vida,
E o ápice de sua vida
Durava não mais que dois minutos.

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Espirais

Me sinto dentro de algo que gira e sobe.
Rodo e me planto por sobre o ar
E caio num repente que s'esvai
N'outra subida repentina e tonta.

domingo, 21 de setembro de 2008

Desrenascimento

É assim que funciona:

Tem hora que a gente reverte o rumo das coisas
Só pra ver como elas seriam de trás pra frente.

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Inspirado em Reverse Ilário

Espetinho de Coração

O colo da moça insiste em ser quente.
E com sua temperatura pre-aqueço meu coração.
E num afago mais forte ouve-se:
Piii! Piii! Piiiiiiiiiii!
Pronto! A comida está pronta.

Sobre o Amanhã

-Ei! Desamarra minhas mãos?

-Não posso. Estás preso pra sempre.


"Foi aí que me lembrei que tinha um gêmeo siamês. Destino."

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Teocrença

Não creio em Deus,
Mas ainda vou à Igreja
Com medo do inferno.

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Deslugarização

O homem era mau-encarado.
Veio uma moça e o desencarou.
Logo, ele desexistiu de amor.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Dediprosa #3

Ainda não discordo
Da Língua, mas é como
Se ela ainda comesse
Minhas entranhas.

Dediprosa #2

E o fato fez-se fera
E a Fera fez-se fonte
E a Fonte fez-se ponte
E a ponte caiu, é fato.

Dediprosa #1

À boca que cala,
Ao calo que cola,
Ao colo que queda,
E a queda que cala...

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Pirintemps

Ceda ao elo de matéria
Que te grita, por dentro,
E te arrebata ao céu
Numa explosão
De euforia.
Esconda a infelicidade
E te ria qual palhaço
Que dinheiro ganha de sua ilusão.

domingo, 14 de setembro de 2008

Dédalos Encefálicos

Era um tempo difícil. Os meninos de Hitler já tinham armas nas mãos aos quatorze anos. Eram cruéis, e gostavam disso. Sabiam que o sangue judeu era de bom gosto, mas não lho podiam engolir, que ele era sujo como coca-cola, então bebiam o sangue tinto de vinho, comungavam a vitória, comiam o pão da carne judia e depois o cospiam, num ato puto e santo.
Era um tempo difícil. O exército francês precisava de soldados e o contratou, mesmo sabendo que havia perdido seus dois filhos e estava quase louco. Sabia que morreria em um mês, então resolveu ir pra guerra, que assim ao menos se vingaria da morte de seus filhinhos. Cortara-se com ferro quente. Fizera uma cruz no peito, pra fazer justiça aos que mataram por nada.
O menino foi jogado num navio e recebeu uma arma. O homem foi jogado num navio e recebeu uma arma.
O homem era extremamente violento. Certa vez encontrou dois alemães. Torturou-os por cinco dias, e só parou porque os “Bigodinhos” não agüentavam mais. Lembrara-se de seus filhos. Arrancava-lhes os nervos das pernas. Com as mãos.
O menino era extremamente violento. Apesar de só ter tido a oportunidade de matar vinte e cinco “fedorentos” num fuzilamento. Seus braços eram não muito mais grossos que o cano da arma. O furor lhe escapava dos olhos. Em seu tórax, havia cortes em ferro quente: “TOD”, estava escrito em letras garrafais e fundas.
Houve um combate.
Um navio naufragou.
Outro navio naufragou.
Um soldado francês estava num bote.
Um menino estava se afogando. A arma era pesada e puxava Frederich para baixo d’água. Seu corpo débil não resistia à falta de ar. Logo a arma, sua única amiga e fiel escudeira o estava traindo. Nunca havia sentido tão fortemente o gosto do sal, era a glória salgada da morte na guerra lhe penetrando as artérias. Jacques olhava o menino se afogar, rindo. Pensava até em puxá-lo para fora d’água, mas o jogaria de novo, afinal, a diversão era grande. O menino finalmente conseguiu se aproximar do bote e nele se apoiar para tomar fôlego. Bastou o vigoroso francês tocá-lo com o remo para que ele tornasse a sua posição original salgando novamente sua boca, dando mais e mais diversão ao gozo de Jacques.
O moleque se contorcia na água, fazendo o possível para trazer algo que não fosse água e sal aos pulmões. O francês, olhando-o, notou que por mais frágil e fraco que fosse ainda lhe sobravam algumas carnes pelo corpo. Nisso, lembrou-se que precisava comer algo e que a praia estava distante; não agüentaria remar sozinho até seu destino. Estava decidido: teria de tirar o menino d’água por questões de sobrevivência, não por pena ou qualquer outra bobeira dessas que se ensinam na igreja, afinal, era um alemão.
Frederich não acreditava que havia sido salvo por um francês fedorento. Logo ele, que em hipótese alguma salvaria um idiota do exército inimigo. Não entendia o porquê de ter sido salvo. Mas estava grato, e remava enquanto Jacques descansava um pouco. Sentia o cheiro do francês, sentia ódio e alegria, ânsia de vômito e bem-estar.
Jacques, em seu descanso, lembrava-se de seus filhos. Lembrava-se deles, mas não conseguia ver seus rostos. Via vultos e borrões, via o rosto de Frederich no lugar do de seus filhos. O ódio lhe ferveu as artérias. Esquentava-lhe a cabeça o fato de uma alemão sujo estar no lugar de seus filhos. Avançou sobre o nojento e começou a esganá-lo, com o prazer da vingança, rindo enquanto via sangue escorrer das narinas do moleque, cujo pescoço fino era de fácil de quebrar, era quase tão prazeroso como matar um frango para saboreá-lo na janta farta.
O menino olhava assustado para a face francesa que o matava, devagar. Pensava no motivo para tal execução e não o encontrava. Mas continuava olhando fixamente para a cara do homem que havia salvado sua vida e agora estava o matava. Num repente, notou que o rosto do francês nojento estava mudando. Havia um traço aqui outro acolá do rosto de seu pai. Lembrou-se, então, do momento em que assistia a morte de sua mãe, pelas mãos do próprio pai. Então juntou sua pouca força com seu muito ódio e fez um corte no braço de seu pai, que logo se desfigurou e voltou a ser o francês, gritando a dor de ter sido perfurado no músculo do braço.
Jacques gritava. Xingava Frederich, que não entendia o que ouvia, mas sabia que estava sendo xingado. Arrependeu-se de ter cortado o braço do francês, e improvisou um curativo com um retalho de sua farda. Jacques sentiu que, pela primeira vez, após a morte de seus filhos, alguém se preocupava com ele. Sentiu nas mãos feridas do alemão outrora nojento, uma carícia que há muito não sentia, sentiu as mãos de seu filho o tocando. Frederich acabou o curativo, e pôs-se a remar, até a exaustão. Após horas de remo, não agüentava levantar os braços. Estava frio, estava fraco, sentia fome. Jacques tremia de frio, dormindo. Frederich tremia de frio e então se deitou ao lado de Jacques e abraçou-o para acabar o frio. Dormiram ali, como pai e filho pela primeira vez, na paz da guerra.
O sol caía em placa sobre os corpos dos soldados. Acordaram simultaneamente e perceberam que estavam próximos do litoral. Havia gaivotas no ar. Puseram-se a remar, mesmo com toda a fome e exaustão. Viram o litoral em pouco tempo, era uma praia; deserta e calma, não havia guerra, luta, nada. Também não havia paz, alegria. Não havia nada. Mas remavam rumo ao litoral, esperançosos. Finalmente estariam em terra firme. Não acreditavam poder botar os pés no chão, sem guerra, sem morte, sem ódio. Estavam finalmente a salvo de armas e guerras. Abraçaram-se, fortemente. Jacques sentia no calor do corpo de seu filho toda a paz que poderia sentir e o apertava cada vez mais e mais. Frederich sentia-se sufocado. Jacques apertava mais, abraçava firme o pescoço do garoto. Frederich via seu pai tentando o matar, assim como fizera com sua mãe, sentia ódio, mas não podia se mexer. Podia somente olhar o rosto de seu pai. Era tão dócil, tão calmo, tão bruto. Sentia todo o ódio que guardara para a guerra. Roubava-lhe o oxigênio com um abraço, apenas. Jacques via o corpo frágil de seu filho se contorcendo em seu seio, mas permanecia apertando. Frederich sentia ódio, tentava se livrar do abraço mortal do amor.
Pungiu-lhe a costela.
O amor matava duas pessoas, deveria ser este o motivo da guerra.
Alemães e franceses se amavam.
Encontravam-se dois corpos à beira-mar: pai e filho, mortos, por amor.

sábado, 13 de setembro de 2008

Dissoluções Folosóficas

Noite azul e escura...
Sentados num chão qualquer
Olham temas dissolutos
Nas pontas dos cigarros.
O branco que sai das narinas
Já não é fumaça,
É o resultado da filosofia
Natural e célebre dos fumantes
Que chegam a uma conclusão:
A alma é feita para morrer;
A alma está morta;
A gente vive para a morte...

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Rosa Toxicada

"A Rosa despedaçada,
O cravo pôs-se a chorar..."
Rosa definhada;
Consumiu-se em pedra e areia,
Vento e Terra
E tornou-se Pó,
Que do Pó que veio
E haveria de um dia retornar.

Nos meandros derradeiros
Os sinos tocam
E embalam a sina dessa Rosa,
Que ficou doente,
E, pouco a pouco definhou,
E recriou o mundo à sua maneira,
E se refez em pó;
Absoluto, Trépido, Obsoleto.

domingo, 7 de setembro de 2008

Vagações Etéreas

E o etéreo me suga,
Pelo braço,
E me leva, longe.

E me perco, parco,
Na imensidão da noite
E esbarro na Ursa Maior.

Num resvalo de luz
Caio ao chão; acordo.
E vivo tudo de novo, vivo.

Viajem à Quimera

Cansei meus braços
Escalando o Monte de Quimera.

Nenhum guerreiro
Trouxe, em seus braços,
Marcas mais fundas
Que as do Monte de Quimera.

Meus braços agora são fracos
Perderam força na subida,
Sem lembrar que a Quimera é alta,
Que um dia teria que descer.

Mas de Quimera trouxe comigo
Toda raça de fé que haveria de ter.
Trouxe comigo
Toda taça de vinho que deixei de beber.
Em função de Quimera, perdi um "quem dera".

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Loucura Técnica

As coisas se quedavam presas numa mistura homogênea de ácidos fortes. Tudo se esquentava e aumentava a pressão, numa PG de razão irracional. Quase explodia...

De repente, a freqüência das colisões se tornou muito grande. O calor calefou toda calma que existia e explodiu tudo num grito de 700 Hertz.

Então pus na minha frente um espelho que ampliasse a dimensão das coisas; pus uma fantasia e fui viver no palácio de rei, de bobo da corte.

Manifesto ao Silêncio


Cala-te.
Que a poesia quer abrir a boca.
Silenciem o mundo
Quando a poesia começar a falar
Que todas as criaturas devem ouvi-la,
E descobrirão o derradeiro grito da alma.