quarta-feira, 30 de julho de 2008

Suvenir

Pele; tua boca enroscada, nua.
Corpo; nua pele recatada a tua.
Fado impróprio, assisto a ti, calado,
Assisto a ti, Pierrot apaixonado.

Teu colo, olor intacto, Jasmim.
O olho teu, fosfóreo Vitral em mim,
Que me olha, na cara, tão perspicaz
Interrompe roleta-russa em paz.

A ti não descreveria com seleta
D'outro autor que possa a ti vestir,
Ou Um, que viu alma melhor, mais qu'esta.

Dei minh'alma, podes me ferir.
Fixa, de ti não há cópia quieta,
Que Tu és Corpo e Alma; Suvenir.

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Miss.

Aperto/EU-----------------------------------------Desaperto.
Aperto/EU-------------------------------Desaperto.
E parto EU-------------Desaperto.
E parto EU ao Desaperto.
Desaperto EU ao parto.
Desaperto e parto EU.
Desaperto e EU.
Dez apertos e EU.
Aperto-------------------------------------EU.

E fica tudo apertado de novo...

domingo, 27 de julho de 2008

Diálogo infantil: sobre a saudade


- Ai, Irmão...
- Que foi, Irmão?
- Eu tô com saudade...
- Calma, Irmão. Vai passar... Mas... O que que é saudade mesmo?
- Saudade... ah, saudade é um aperto que o coração dá nele mesmo pra avisar que precisa de alguém que está longe. Quando a gente sente saudade, a gente fica com vontade de inventar um ônibus que vai num lugar bem longe só pra poder viajar um tantão e ver o que faz falta. Saudade é quando a gente vai dormir e sente saudade do abraço, é quando a gente fica toda hora pensando numa coisa que a gente queria estar perto... Enfim, saudade é quando a gentre quer uma coisa que tá longe.
- Hummmmm... que saudade de comer bombom!

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Até Que Amor[te] Os Separe

Ânsias escondidas
Por detrás de vestidos brancos
Gritam alto a carne rubra
Por detrás dos vestidos brancos.

O terno negro espera
Sagaz e típico de sua cara,
E, em silêncio
Chama a alvura para perto de si.

Aquele vestido branco se jogou.
Se sujou com o rubor da carne
E, enfim não foi usado.

"Corrompeste a decência humana,
Não és digna de meu epíteto."

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Reflexos-devaneio

Lembra do redemoinho
Alvo que te amanhecera
Na cabeça
Antes de levantar?

Lembra daquele vento frio
Que antes de te ninar
Passara turbilhão
Ao norte da montanha?

Lembra daquela água
Em que te refrescara
Antes de se tornar enchente
À porta de minha casa?

E daquela niña preta
Que te servira antes de morrer?
Lembra-te?

Eu sou a niña preta,
E sou o moleque que
Desfaleceu na sua cahoeira,
E sou a árvore que caiu
Coma força de teu vento.

Esmola


Pulsos cortados,
Rosto dilacerado,
Unhas quebradas.
A imagem choca.

Resvala-se um pouco de dó.
Esquece-se da verdade
E doa-se alguns trocados.
A facilidade hipócrita
Encerra a vida alheia,
Um pouco mais rica,
Vinte e cinco centavos,
Precisamente.

Tempos modernos

Fez-se noite na lucidez
Da cabeça clara do homem.
Esqueceu-se que alguém disse
"Sem amor eu nada seria."
Guilhotinou-se heroínas,
Amordaçou-se tal Platão.
Bombardeou-se a tal caverna.
Por fim, castrou-se mente minha.
Já não penso, não falo nada.
Trabalho, como, bebo, morro.

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Diálogo infantil: Sobre o beijo


- Irmão, ela me deu um beijo hoje.
-Que? Ela te deu um beijo?
-É, ela me deu um beijo.
-E agora? Que que a gente faz?
-Ah, a gente espera.
-Mas conta pra mim, ela te beijou mesmo?
-Sim. Ela que me beijou. De boquinha quente ainda.
- Como que é um beijo?
-Ah, um beijo é um carinho que estala.

Discurso sobre o Amor

Retrocedendo um pouco o meu dia, me lembro de ter ouvido da boca de alguém a seguinte frase: "Te amo não é bom-dia". Alegaram-me que o "te amo" deve ser falado em momentos especiais, tipo naquele jantar caríssimo que o namorado paga quando faz um ano de namoro. Ora, mas por que "te amo" não pode ser falado toda hora? Porque o amor deve tere hora pra acontecer? As pessoas são estranhas. Me ensinaram que amor não tem hora, que quem ama de verdade, ama até na hora da doença, que só a morte separa o amor verdadeiro. Então porque escolher a hora certa pra amar? As pessoas acham feio quando um casal de namorados diz que se ama o tempo todo. Qual é o motivo disso? Não há nada de muito racional por trás disso, com certeza. Seria inveja? Não sei, sinceramente. Mas se há necessidade de se dizer "te amo", que o diga, pois. E para aqueles que acham que amor é reloginho, lembrem-se de seus pais, e lembrem-se de que quando seu alarme tocar o tempo pode ter passado um pouquinho.

terça-feira, 22 de julho de 2008

Soneto de Apocalípse

Com o “amai-vos uns aos outros”
Fez-se guerra frente à paz.
E nós, agindo qual potros,
Decapitamos Eros. Ás.

Cortou-se punhos de Vênus,
Que chorava sangue-lágrima.
Fez-se de meu cardo ânus
E escudos cravam minh’alma.

Volveu-se a pútrido o santo,
E amou-se, ao bel-prazer, o ínfimo.
Livrou-se, então, do pranto.

Me vi, então, do ódio íntimo,
Me vi tal qual e tanto quanto
Da guerra e do ódio o cimo.

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Biofolia

Chega de tristeza
Que tristeza é coisa
De a gente não cultivar.
Chega de saudade
Que saudade é faca
Que faz a gente cortar.

Vem viver a vida,
Dança doida e farta,
Que faz a gente chorar.
Se tiver que chorar
Chore rindo, alegre,
E tenta fazer melhorar.


Vem, toma meu braço
E, no meu passo, amor,
Vem cá comigo dançar.
Dança a vida alegre,
Forte e firme e doce
E lembra que já vai passar.

É carnavalia
É alegria fria
Que o tempo há de levar.

Apagaram luzes
Tá escuro e frio,
A festa iria acabar.
("Que pena")

sábado, 12 de julho de 2008

There's no name

Tácitos gritos cálidos
Réplicos de tua nédia
Próclise fala fálica.
Súbito peço óbito.
Ávido, eu, estúpido,
Mórbido pelos árdegos
Tácitos gritos cálidos...

Auto-psy

Lembra-te que és fruto do pó
E ao pó há de retornar.

Lembra-te, então, que pareces
Com tua mãe, e dela herdara
Tudo que hoje tu menospreza.

E, lembra-te, enfim, de tu,
E dos filhos que já tivera
Antes de desejar a morte
E saber que era bem (ção) tua.

quarta-feira, 9 de julho de 2008


Por mais indiagnosticável que seja a doença, lembra, tu: ela é parte tua, e em ti encarna e berra alto.

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Big-Bang

Não se sabe ao certo
O que aconteu.
Viu-se clarão dilacerar
As sombras e devolver a vida
Àqueles que outrora eram somente lenda.
Daí, sonhos renascem,
Auroras boream...
E se morre, na velocidade com a qual
A sombra foi rompida.

domingo, 6 de julho de 2008

Metalinguagem #4 - O Verso das Coisas

É que, às vezes,
A gente grita
E não sabe o porquê.

É que, às vezes,
A gente entende
A palvra alheia
E sofre, de esquina.

É que, às vezes,
Nem tudo é tão difícil,
E não mata nem fere.

E não importa de que forma
Mudându a phorma de phalar,
0u 4 form4 d3 escr3v3r,
Alguém sempre entende o dito
E chora ao pé da mesa,
Amarrado, preso, livre.

Metalinguagem #3 - O Como das Coisas

Quimeras explodem
Olhos roucos.

Olhares implodem
Vozes cegas.

E cego e rouco
Não reajo à bomba
Tóxica da palavra
Tônica que me acerta o peito.

Depois grito e durmo,
E acordo inocente
E sóbrio,
Decido ganhar a palavra
Que outrora me acertava
Em força...

E com um leque vocabular
Me estranho aos fatos da vida
E os jogo em gritos-termo
Em versos,
E acabo uma vida com um ponto final.

Beco


E, de Beco, não se fala nada.
De Beco não se entende nada.
Vidas Beco, raças Beco, sons de Beco.
Nunca se sabe donde vem o próximo grito,
Mas sabe-se que vem do Beco.

E a emergente Coisa-Beco que se aproxima

Leva e toma conta de tudo e todos,

Fazendo do Beco aquilo que não se esperava:
Apenas o velho e silencioso Beco.

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Gênesis

E o Cavalo-de-tróia entrou
Posudo, confiante.
O que ele não sabia
Era que havia fogo.
E o fogo, ligeiro que só,
Subiu pelas pernas
E fez Cavalo-de-tróia
Dançar aquela valsa bonita,
A valsa da destruição...

Dalí, chamuscavam partes
Para todos os lados.
O calor, não se sabia se era de fogo ou ódio.
As partes eram humano-eqüinas,
E num Caos total, Eros tomou posse
E uniu a tudo: fogo, ódio, guerra.
Dessa união nasce o homem,
Pensante, crente, arrasador.

terça-feira, 1 de julho de 2008

Qu'é só o amor

Às vezes o Amor é grande,
E dilacera o peito, e arrebenta a carne,
E degusta o coração e bebe o sangue
Como num rito canibal,
Que é o que o amor é.

Mas o Amor toca e não se sente.
E toda sua agressividade se passa
Despercebida diante do fulgor
À flor da pele em erupção.

E de mim, Amor não há.
Porque Amor foge à vista e fere a retina,
Porque só Ele faz da pedra éter,
Do podre, ouro,
E da lenda fato, foto. Feto.

Reflexo-bombardeio

E reduzido a pó,
Me dividi e criei o monstro,
Que ataca sem razão,
Apunhala alma'lheia,
E come tripa, rebuscada de sangue.

E reduzido a pó,
Me dividi e criei o médico,
Que cura as feridas mais abertas,
Sana dores, cria amores.
E dá luz a vida, gritada em grito santo.

E reduzido a pó,
Expando e implodo,
Nessa fúria-calmaria
Que se ria[cria, via e gemia],
De dó.

E eu,
Cissíparo que nem só
Permaneço átono, pálido, ático.