domingo, 26 de outubro de 2008

O Hábito e o Trágico

Cozinhava. Enquanto deixava o molho esquentar um pouco dava um susto nas cebolas, pra não corar demais. O cheiro estava instigante; usava um pouco a mais de louro e manjericão naquele dia. O arroz estava quase pronto, faltando para este só mais um pouco de fogo, que viria em breve, quando o molho do macarrão estivesse quase pronto. Cortava a couve em fios bem fininhos. Sua filha gostava assim. Opa! Queimou o dedo. Mas foi só a pontonha, era só colocar na água que aliviava bastante e pronto. Foi à dispensa procurar o óleo. No meio da sua procura achou várias coisas, até algumas caixas com coisas antigas: fotos, cartas e um monte de papéis avulsos. No meio da bagunça achou chumbinho e, com ele na sua mão, pegou a lata de óleo e correu para a cozinha, que ainda havia de fritar os bifes. Naquele dia o almoço seria ótimo; uma delícia. Ao colocar óleo na panela quente, viu o óleo brilhando e se lembrou das brincadeiras de menina, com as misturas na panela da mãe que sempre tinham cores bacanas. Nem exitou: jogou um pouco de chumbinho na frigideira e começou a rodar. Era lindo; o óleo sobre o tom metáliuco fazia brilhar toda a panela. Quase mágica. Mas voltou a ser adulta: colocou o bife de sua filha na panela, fritou, e a deu de comer. "Adultos são insuportáveis", pensou a filha.

2 comentários:

garoto roto disse...

sua prosa tem melhorado que surpreende.

R. Avancini disse...

agradecido [engrandecido]