sábado, 31 de maio de 2008

Qu'é que a gente faz?

E agora, qu'é que a gente faz?
A gente espera?

Não, não dá mais pra esperar.
O nó da garganta já sufoca.
Já é nó em nó em nó em nós.
E aperta, e asfixia.
E prende a vida nos pulmões,
Nicotinados que só eles.

Se a gente esperar
O bicho come.

E se a gente correr
Acaba se perdendo lá na frente.

E então, qu'é que a gente faz?
A gente espera?

quinta-feira, 29 de maio de 2008

Metalinguagem #2 - O porquê das coisas

Escrevo.
Escrevo porque tenho lágrimas nos olhos.
Escrevo porque tenho que falar alguma coisa.
Escrevo porque o nó da garganta ainda está apertado e me sufoca.
Escrevo porque vejo cada lágrima virando uma letra,
E cada letra vira um som, e cada som vira uma lágrima.

Bem que se quiz

Às vezes eu queria ser só um pedaço de mim memso.
Às vezes eu queria ser só um monte a mais do sou mesmo.

Às vezes eu queria nem querer nada do que quero.
Às vezes queria querer muito mais do que quero.

Mas é o que diria Nhinhinha: "Deixa, deixa... Eu ainda vou pra lá."
Então que eu vá logo pra lá, apesar de nem querer saber onde é lá.
Apesar de nem querer de verdade ir pra lá. E isso dói.

quarta-feira, 28 de maio de 2008

Saudade...

E quando a gente fica com saudade da gente mesmo?
Que que a gente faz?

A gente sabe que essa saudade vai durar pra sempre.
A gente sabe que é o tipo de saudade que vem e fica.
A gente sabe disso porque a gente sabe que a parte da gente
Que a gente sente saudade
É a parte da gente que ficou no espelho da casa da gente.
E ficou por lá, e não volta mais.

A heroína decaída


E me tomo, de repente,
Por uma culpa estranha.
E sinto arrepios
Dos olhares a mim lançados.

E encontro a razão,
E vejo que o melhor, de fato,
É me esconder,
Então pego a seringa
E me escondo.
E me escondo nas minhas veias.
Cheias de pus.

Diálogo infantil: sobre a honestidade

- Outro dia minha mãe me falou que a gente tem que ser honesto, mas não entendi muito bem...
- Ah, honestidade é uma coisa fácil de entender.
-É?
-É.
-O que que é honestidade?
-Honestidade é quando a pessoa acha feio combinar qual número vai colocar no zero ou um, quando a gente não olha pra onde todo mundo tá indo no pique-esconde, é quando a gente devolve a borracha do colega sem levar pra casa. É quando a gente conta pra mãe que ficou de castigo na escola, e sabe que a mãe da gente é honesta também e não vai punir a gente.
-Então se eu te proteger, serei honesto com você???
-Não.

terça-feira, 27 de maio de 2008

Sabe quando?

Sabe quando a gente tem vontade de largar as coisas?
Sabe quando a gente tem vontade de entrar de férias, e ainda está no início do ano?
Sabe quando a gente queria que fosse tudo diferente?
Sabe quando a gente tá cheio de coisa na cabeça e não consegue explicar direito?

Pois é, isso é quando a gente precisa de férias...

Solimar e Marissol

Solimar gostava de futebol.
Marisol tinha cabelos cacheados.
Solimar gostava de bolo de chocolate.
Marisol estudava muito.
Solimar adorava quando era feriado.
Marisol se achava gorda ao olhar no espelho.

Solimar queria gostar de alguém.
Marisol queria ser advogada.
Solimar pensava que queria ter dois carros.
Marisol sempre achou que seria bom morar num sítio.
Solimar iria tentar vestibular até passar em medicina.
Marisol gostava muito de Chess-egg-bacon-burguer.

Eis Solimar e Marisol:
Dez anos de casados, três filhos,
Moram num apartamento bonito.
E são muito felizes,
Apesar de Marisol detestar
Quando Solimar sái de moto e não a leva pro trabalho.

Poesia

Ele pisou na linha preta do cadarço.
Ele tropeçou na pedra, e deixou virar poesia.
Ele só não viu o que aconteceu,
E se assustou quando já havia acontecido
E deixou virar poesia.

Ela mascou chiclete, fez bola
Mastigou a ponta do lápis, sentiu o amargor da tristeza
E deixou virar poesia.


E eu, vi aquilo tudo, tentei fazer alguma coisa.
Não pude.
Aí deixei virar poesia.

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Diálogo infantil: sobre o amor


- Fala baixo! Ela não pode ouvir. A gente tá pegando a palavra dela e tá jogando aqui no texto.
- Ah, tá. Mas qual palavra que é?
-Amor.
-Hummm. Que que isso?
-Amor... é aquilo que a gente tem pelo pai da gente, que faz a gente não ter raiva depois de ter tomado tapa na bunda. Amor é quando a pessoa pede nosso biscoito e a gente nem fica com raiva de dividir, é quando a gente tem vontade de jogar video game o dia inteiro com a pessoa e deixar ela ganhar de você um monte de vez, só pra fingir de bobo quando ela rir da sua cara. Amor é quando a gente fica muito bravo quando outra pessoa fica rindo pra pessoa que você ama, meu pai me ensinou que o nome disso é ciúme.
-Ah, tá. Então eu amo meu cachorro.

Psicologia

Pó puro, poeira.
Pé , pata, pêlo.
Pacto, perto, pecado.
Pico, perene, planície.
Puta, puto, pai.
Pano, preto, pó.
Pé, perto, pai.
Pacto, perene, puta.
Pico, puto, poeira.
Pito, peco, pronto.

E se queda preso isso tudo...


Mas...

Ah, a dúvida.
Punhal que dilacera as tripas,
Abre o peito, corta o pescoço.
Mas deixa o coração quase intacto.
Só lhe ocorre, às vezes, uns cortes leves,
Pra poder sentir a dor da dúvida.

domingo, 25 de maio de 2008

O espelho


Quando eu era pequeno, ficava olhando pro espelho tentando adivinhar o que acontecia do outro lado. Às vezes ficava meio assim, ficava triste pelo menininho do outro lado, que tinha de me imitar em tudo. Às vezes achava que o menininho só me imitava por mera coincidência. Mas às vezes eu ficava triste de verdade por ter certeza que o menininho era eu, e eu era quem imitava o menininho. Aí, teve um dia que descobri que é só uma camada bem fina de prata, que reflete a gente. Acabou o sonho

Metalinguagem #1 - o início das coisas

E, de repente,
Sinto uma euforia estranha.
"Sou lido! Alguém me vê!"

Mas retomo a compostura.
Fico sério, apesar de rindo por dentro,
Me orgulho e vou escrever algo.
E me ponho a rir da minha metalinguagem.

sábado, 24 de maio de 2008

E Ela?

E Ela?
Por que me olha assim?
Porque me abraça e faz sentir tanto calor?

Por que sempre me anima?
Faz o mundo parar de girar,
E causa uma onda tão grande que afoga vulcão.

É menina, te busco água na peneira.

Te arranjo rosa espanhola.

Não te queda longe,
Qu'eu sinto tua falta.
Não te queda longe,
Senão o mundo anda.
E contigo, o mundo é melhor parado.

sexta-feira, 23 de maio de 2008

I want

E me tomo, agora,
Por uma vontade súbita
De fumar um cigarro.

Tudo isso pra ter um quê de Blasé.

E me tomo, agora,
Por uma vontade súbita
De explodir-me em grito-devaneio,
E fragmentar-me todo como poeira saariana
E espalhar-me todo em toda a força bélica
Que contra o teto e tudo jogam, e tenho tido TOC's.

E me tomo, agora,
Por esta vontade súbita,
De não ter vontades mais,
Sanando dores, sarando horrores, secando amores.

Logo ele, que só era

Não, não é louco.
Só não lhe coube na alma
Toda a vida que na cabeça tinha.

Não se perdeu.
Só não quis achar o caminho
Que lhe disseram haver.

Só não quis que lhe olhassem
Com aqueles olhos de "eu nunca".

Só não quis que lhe fosse embora
Toda a razão que havia arranjado.

E, por isso, findou aquilo tudo
E de seu tudo, só se via agora os pés.

A Ela, que ainda ama

Acaba-te, pois em amor
Que é ele o único sempre a ti fiel.

Faz com que a ganância de felicidade
Seja maior que toda a força da vida sobre ti.

Olha cada vez ao espelho
E vê nova gente sair de dentro de ti.

E não te aflijas com essa coisa-bicho que te atormenta.
Verás ainda que é só mais um de teus amores,
Mas verás também que foi o primeiro
E não menos importante ou forte que qualquer outro vindouro.

E ama, pois é essa a intenção do amor:
Ser grande e pequeno,
Mostrar a ti que é, sim, bela a vida,
Mesmo que seja, às vezes, estranho pensar assim.

E acaba-te, pois, em amor
Que é ele o único sempre a ti fiel.
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*como prometido, depois de algumas lutas contra a natureza humana... feito!
(It's for you, Fran)

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Ao orgulhoso

Orgulha-te, pois
É de ti que muitas das vontades saíram.

"Quando crescer quero ser grande."
"Quando querer ser, muito grande, grande igual ele..."

E assim foi.
Não sou grande
Nem pequeno.

Mas desperto orgulho naquele que me criou.


Orgulha-te, pois.
Esse mérito
teu também é.
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*Para Theus(só clicar no título)

sábado, 17 de maio de 2008

Em nome do filho

Olhos fixos...
Batalha travada...
Espadas ao chão,
Cadeiras, Mesa, Vinho e Pão...

Quem é esse que luta com a pele?
Quem é esse que se usa de olhos para ferir?
Quem é esse que com palavra chama?

"Sim, fui eu...
Antes dos pregos e estacas e a cruz...
Seja feita a vossa vontade."

Revi

É, Sonhador...
Alguns sonhos de fato decaíram.
Mas outros tomam seu lugar.
Aspiram por Revoluções
Quase tão gloriosas
Quanto aquelas
Que outrora foram pensadas.

É, Sonhador...
Alguns sonhos se tornaram mais fortes.
Algumas metas mais alcançáveis.

Deixamos Narciso de lado...
Esfolamos a face de Dorian Gray.
Vênus de milo: Decaptada.

Então, Sonhador...
Dá-me a mão,
Que nos venham os vulcõs mais calmos,
E os vales mais turbulentos.
Que nos venha a imagem, a ação...

Que nos venham os versos,
Tais como são...
Em Carrara esculpidos...
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*é pra ti, Sonhador

segunda-feira, 12 de maio de 2008

The Who

Quem é ela?

Que me toca e arrepio?

Que me olha e sinto frio?

Que se faz assim, tão bela?

Por que assim? Tão, tudo?

Se me chegas perto, gaguejo.

Às suas costas solvejo

Qualquer música que relate esse meu mudo.

Não sei, se por tédio

Ou se sem motivo algum,

Recordo teu corpo nédio,

Deixo a água e boto Rum.

Canção de mim para ti

Vem,

Entra comigo na valsa,

Põe-se a rir, dessa troça,

Vem comigo, vem.


Vem,

Zomba comigo da gente,

Se finge de inocente,

E vem comigo, vem.


Ah,

Se você soubesse,

Só se você soubesse,

Tudo que eu quero dar.


Ah,

Só se você cantar,

Vou respirar mais ar,

Inda mais vou versalhar.


Ó, meu par,

Molda-te cubo em gelo,

Faz-te mais imperfeita,

Te tento copiar.


Mais acá,

Não se aprochegue não, viu?

É só aviso prévio, água azul anil,

Quando dá vontade de (a ti –te) cantar

domingo, 11 de maio de 2008

Valentine's day

- Acordastes cedo.

- É que vou-m’embora.

- Vais?

- Sim, vou.

- Porque vais?

- Não o quero mais.

- Por quê?

- Fado.

- Fado?

- É. Fado. Cansei-me de teu gosto, rosto e posto.

-Tudo bem. Abro-lhe a porta.

Ela se foi ao sol da manhã, caminhando em direção ao sol da cidade imensa. Ele voltou pra cama, olhou o teto, e ficou a divagar. Ela chegou em casa, bebeu conhaque se sentou à mesa e começou a escrever:

“Não me porto assim há tempo. Cansei-me de tentar ser. Não quero mais deixar-te a mim preso, certa de que mesmo que longe te faço influência. Chego ao ponto em que desligar-me de tudo é o mais sensato a fazer. Já não sinto mais o sal nas lágrimas dos olhos, e nem o açúcar do mel da flor roubada da casa da vizinha. Não me embriago e rio. Bebo e choro. E choro conhaque, puro. Me quedo longe do que seria o destino ideal, ou o início de um futuro brilhante. Noto que só há desgraça e aparência. Não me quero continuar aqui. Amo-te.”

Valentina. Nome que agora sopra o vento saído da boca da morte. É... Ela veio buscar Valentina. Se foi escutando “estátuas e cofres e paredes pintadas”, não pôde ouvir o final da música. Ela se jogou da janela do quinto andar.

Vinte e nove anos, vinte e nove amigos, vinte e nove reais na bolsa... Só isso. Não era necessário mais do que aquilo, não iria usar. Terminava o sonho de sua vida: a faculdade de medicina. Tentou muito. Conseguiu. Passou fome por dois anos na cidade maravilhosa, depois se arranjou, até comprou um Corcel 73. Não se contentava em ser só humano, ridículo, limitado, que só usa dez por cento de sua cabeça animal. Tinha consciência de que devia estar contente por ter emprego e ser um dito cidadão respeitável. De repente, num baque, viu o lixo que tudo aquilo era...

Pela manhã, acordou com o sol na janela do seu quarto, tomou conhaque num dos cantos da cidade, saiu pra andar, tentar esfriar a cabeça, sentou à calçada da praça, desenhou toda a calçada, acaba o giz, terminou com tijolo da construção, rabiscava o sol que a chuva apagou. Era tão fácil voltar pra casa, o caminho era um só, mas preferiu andar mais.

Queria ser como os outros e rir das desgraças da vida, ou fingir estar sempre bem, ver a leveza das coisas com humor. Via passar gente de cara feliz. Mas a alma estava podre, uma goiaba bichada, mas comiam o bicho, afinal, “bicho de goiaba é goiaba”. Só queria um abraço de um desconhecido, um oi ao menos, “mas não me diga isso, não me dê atenção, e obrigado por pensar em mim...”

Viu que sua presença nada era, não passava de pura ilusão egocentrista, pensou no que aconteceria se seus pés ficassem duros: Quem vai saber o que você sentiu? Quem vai saber o que você pensou? Quem vai dizer agora o que eu não fiz? Como explicar pra você o que eu quis?Era agora só um soldado pedindo esmola, não queria lutar.

Era tudo tão difícil, pensou em ir à casa da Noélia, não foi. Já sabia o que iria acontecer:

-“Quando tudo está perdido sempre existe um caminho, sempre existe uma luz...”

-“ Mas não me diga isso, hoje a tristeza não é passageira, hoje fiquei com febre a tarde inteira, e quando chegar a noite cada estrela parecerá uma lágrima.”

Era o que aconteceria.

Mas por acontecer, ela não sabia o que acontecia com ela mesma, Cadê o bronze no corpo, os olhos azuis? O seu corpo teinha marca de sangue e pus.

Decidida a findar aquilo, já que tudo dava errado, o que foi prometido niguém prometeu, se deu uma ordem: findar. Ordens são ordens.

Deixou umas frases, antes de ligar seu som, abrir sua janelae sentir o vento gélido no seu rosto: “Calei e escrevi isto em reverência pela coincidência: É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã, por que se você parar prá pensar, na verdade não há.” De fato, não havia.

Ela se jogou da janela do quinto andar, nada é fácil de entender.

quarta-feira, 7 de maio de 2008

...

E agora?

Será mesmo o fim,

Serafim?

Querubim

Diz querer bem.


Mas não deu.

Deus-se a desgraça,

Mesmo que arcanjo o faça,

Ou refaça,

Te desfaça

Em faces.

E é fácil.

Duas faces, duas armas, dois punhais.

Chega

Chega de dois a dois.

Chega de par.

Chega de p’ra depois.

Chega de “vou me dar”.


Não me rimo mais a ti.

Peço, agora, licença poética

Para mandar-te ferrar,

Que se lance à desgraça eterna e sê maldita.


Meu decoro mantenho,

Não me uso de á educação,

E o asco que agora me amarga

È apenas puro reflexo

De tua consideração.

(Beijos)...

Kiss me

Beijo.

Beijo há no carinho.

Beijo há no ódio.


Há beijo entre Mim e tudo:

Entre Mim e a Barata,

Entre Mim e Kafka,

Entre Mim e Julieta,

Entre Mim e Abel,

Entre Mim e Caim,

Entre Mim e Judas,

Entre Mim e Monalisa,

Entre Mim e Vênus de Milo.


Mas o beijo que beijo mesmo

Não há.

Não há beijo de Mim para Mim,

De Mim para Ti.

De Mim para Abelardo.

De Mim Para Mim, Ti e Aberlardo

Há uma distância tão grande

Quanto um beijo.

Boa noite, Cinderela

Papel em branco,

Quartel e flanco,

Dama de branco

Sem seu tamanco:


Boa noite, Cinderela.


Posso ser franco,

Eu não me banco,

Sento-me ao banco

E dou-te um tranco:


Boa noite, Cinderela.


Defunto parco.

Já não me marco,

Apego-me ao arco

E a flecha é o marco:


Boa noite, Cinderela.


No meu anarco

Não me remarco

Só me esparco

E desapego-me do arco:


Boa noite, Cinderela.

É, José!

Leve oportunidade,

Breve obscuridade

É tal efemeridade.

Essa multiplicidade,

Dessa tal praticidade,

Cessa minha qualidade

Que é só puro pessimismo.

???

O cético,

O tácito,

O mórbido,

O déspota,

O emérito,

O ríspido,

O ápice,

O péssimo,

O áspero...


O réplico!