Argh! Detesto saliva. Esses dentes amarelos... isso é de fumar? Nojo. Invadir a boca alheia é um trabalho asqueroso. Definitivamente. Mais asqueroso é aquele que tem a necessidade de me aproximar de sua boca. Olhar para essa garganta me causa náuseas. Não sei porque trabalho com isso ainda. Esse dente mal escovado no fundo. Pelo hálito sabe-se que não esciva dentes há três dias. E deve ter ficado acordado também, né?
!
Porque está chorando? Agora vai soluçar comigo dentro da sua boca? Fica quieto. Quieto.
Atchin!
Essa gripe ainda mata.
Óleo sobre tela; Guache no papel; Fogo sobre vela; Vinho sobre fel. Somos nós água e óleo.
sábado, 29 de novembro de 2008
terça-feira, 25 de novembro de 2008
Metalinguagem #8 - O Poeta e o Verso
Sede donos de uma canção,
Cantai-a num tom maior,
E depois morrei
Numa nota derradeira,
E dai o silêncio
Sua vez de cantar.
Enfim, sede donos de um verso,
E fazei dele parte de vós;
Pó, eira, beira, pó[etas].
Cantai-a num tom maior,
E depois morrei
Numa nota derradeira,
E dai o silêncio
Sua vez de cantar.
Enfim, sede donos de um verso,
E fazei dele parte de vós;
Pó, eira, beira, pó[etas].
domingo, 23 de novembro de 2008
Sobre Homens, Borboletas e Cruzes
Havia uma borboleta.
Dois pregos atravessavam suas asas.
Havia uma cruz.
Dois pregos atravessavam uma cruz.
Havia um homem.
Ele pregava um borboleta na cruz.
Homens e borboletas nascem livres,
Mas sempre há uma cruz no caminho.
Dois pregos atravessavam suas asas.
Havia uma cruz.
Dois pregos atravessavam uma cruz.
Havia um homem.
Ele pregava um borboleta na cruz.
Homens e borboletas nascem livres,
Mas sempre há uma cruz no caminho.
segunda-feira, 17 de novembro de 2008
Superid
Andaria até sua casa. Andaria. Se não fosse o homem gentil que parara o carro e prometera carona. Sabia que corria risco, inclusive se lembrava dos comentários da mãe a respeito dos homens que fazem coisas, e que sempre começam com caronas. Mas preferiu ir. O caminho era curto, e à luz do dia nada lhe aconteceria, além do fato de o homem ser muito gentil e ter no mínimo uns três filhos. Não faria aquilo, não ele. Começou a perguntar sobre seus medos, principalmente sobre os homens que atacam as meninas. Dizia ela que não tinha medo do estupro por si próprio, mas tinha medo da paixão que poderia vir depois, igual em um livro lido. Chegou a comentar alguns psicanalistas que chegaram a explicar e provar por A mais B que após casos de estupro meninas se apaixonavam, ou tinham outros traumas piores. Mas ela estaria livre daquilo, estava sempre precavida. Num gesto inocente, olhava para as pernas dela, juvenis e bem torneadas. Usava uma saia vermelha, puxava para tapar o grande pedaço de coxa que ficava à mostra, apesar de não se importar muito com os olhares do senhor. Seus seios eram quase chamativos, e tinham também grande parte à mostra, pelo decote da camiseta. Sua testa suava, jamais imaginaria aquilo acontecendo consigo. Donde provinha o desejo que lhe aflorava pela pele? Em alguns minutos poderia sentir o cheiro dela mesmo de janelas abertas e no centro da cidade. Estava estático ao volante; seus movimentos era de puro hábito e sua mente se esforçava para não pensar em nada e como fuga perguntava sobre a localização de sua casa. Foram passadas algumas informações a respeito do caminho para sua casa e ele começou a levar-se naquela direção. Desviou o caminho alegando ir comprar cigarros, e de repente já se encontrava num lugar estranho, diria que quase inóspito. Era ela quem suava agora, e segurava forte sua mochila contra o peito, protegendo-a. Seria ela agora mais um dos casos que vão parar no jornal das oito. Seria invadida, seria ferida, escancarada, do jeito que se faz com bicho de sacrifício para a janta. Sairia ferida e fortemente abraçada. Já pensava se ficaria apaixonada ou se passaria o resto de seus dias dentro de seu quarto entre choros, risos e desenhos estranhos, com flores negras que a professora dizia não haver. Na sua intimidade preferia ficar apaixonada, já que seria mais confortável ao seu ego. Ou não. Chegaram numa casa estranha, corpulenta e desmanchosa, com janelas imóveis, fechadas e uma porta que abriria de improviso. Ele a pediu que saísse do carro com calma e não tentasse correr, uma vez que isso só pioraria as coisas, papo típico de estuprador de carterinha. Ao sair do carro ela sorriu, sem que ele percebesse. Poderia ser até bom. Sentiria o vigor de alguém já experiente. Quando ele saiu do carro retomou sua aparência assustada. Pegou-a pelo braço com alguma força. Ela abraçou sua mochila mais fortemente. Estavam dentro da casa. Confirmava todas suas impressões: a casa era suja, velha e caía aos pedaços. Atrás das janelas havia algumas tábuas que impediam que as janelas se movessem. Foi jogada no colchão que havia no chão e fechou os olhos. O medo a fazia tremer e a ânsia fazia suar. Sua blusa foi rasgada e a mochila atirada contra a parede, que não se quedava muito longe dela. Ele então a agarrou com força e colocou ao lado do colchão seus pertences. Estava a invadindo. Com força. Seus olhos expulsavam algumas lágrimas, mas não podia gritar, apesar de ser essa a vontade. Sua boca estava tapada com uma das mãos do homem, que parecia cada vez maior e maior. Começaria então a rasgá-la. E rasgava sangrando, com uma cara de ódio e prazer de mãos dadas. Ela somente assistia, sem reação, sem potência. Parecia economizar forças para ficar viva ao fim daquilo tudo. Ele gozava, e ria, e fazia cara quem está quase chegando onde quer. E chegou. Ao acabar, esmurrou a menina que caiu junto de sua mochila, lenta, vagarosa como um réptil. Era um réptil. Ela então se abraçava à mochila, enquanto era alertada para que não tentasse fugir pelo mesmo motivo de outrora. O homem suava feito cavalo e quase ressonava, como um urso. De dentro de sua mochila saía um punhal prateado e leçado por serpentes, que logo atravessou o abdômem dele, e subia numa vertical perfeita, quase anatômica. Agora as faces se invertiam. A cara de gozo era dela, e ele assistia a tudo, estático. Ele era réptil agora.Tentaria gemer, mas preferiu não o fazer, já que sua boca estava tapada pela mão da menina. Ela então deu-lhe um beijo na testa e desejou boa noite, limpou-se e limpou sua adaga, levantou-se pôs-se a andar para casa, só e tranqüila, qual preguiça. Andaria até sua casa. Andaria.
Metaliguagem #7 - A Possessão e o Destino
Seria uma flor dona de todo um jardim?
Seria uma só joaninha dona da flor mais bela?
Seria um passarinho dono das penas mais azuis?
E eu? Seria eu dono de algo?
Seria eu notório dentro de uma imensidão?
Seria eu destaque por uma rima ou um verso?
Que hei de ser não sei,
Mas o serei fazendo versos.
Seria uma só joaninha dona da flor mais bela?
Seria um passarinho dono das penas mais azuis?
E eu? Seria eu dono de algo?
Seria eu notório dentro de uma imensidão?
Seria eu destaque por uma rima ou um verso?
Que hei de ser não sei,
Mas o serei fazendo versos.
sábado, 15 de novembro de 2008
Teste Vocacional
Quero estar perto do fogo,
E colocar minhas mãos nele,
E se preciso,
Me queimar de novo.
Quero correr na chuva
De tempestade,
E escorregar no chão molhado.
Quero estar no olho do furacão
E olhar a paz por dentro dele,
E me congelar depois,
E estourar sozinho.
Quero ser o ratinho que recebe injeções,
Quero estar na linha do trem, deitado,
Quero jogar pedra na cruz,
Só pra ver como a gente fica depois.
E colocar minhas mãos nele,
E se preciso,
Me queimar de novo.
Quero correr na chuva
De tempestade,
E escorregar no chão molhado.
Quero estar no olho do furacão
E olhar a paz por dentro dele,
E me congelar depois,
E estourar sozinho.
Quero ser o ratinho que recebe injeções,
Quero estar na linha do trem, deitado,
Quero jogar pedra na cruz,
Só pra ver como a gente fica depois.
Epitáfio
Queria ter dado na cara do feio,
Queria ter jogado mais pelada,
Queria ter ido pra chuva,
Ter caído na água,
Ter roubado mais doce,
Ter gritado com os outros...
É porque queria tento
Que estou de cá agora.
Queria ter jogado mais pelada,
Queria ter ido pra chuva,
Ter caído na água,
Ter roubado mais doce,
Ter gritado com os outros...
É porque queria tento
Que estou de cá agora.
O Homem e a Chuva
Andava na rua. Sozinho. Lembrava-se das coisas que deixara na esquina de casa, das coisas que lhe haviam passado pelo rosto com o vento de cinco da tarde. Era um passo ritmado, desse que dá pra contar quantos foram num segundo, e oscilava entre a rua e a calçada, formando um zigue-zague. Aí o homem começou a chover. Era chuva de água fresca que o limpava. Por dentro, por fora. E então sentou-se no meio-fio e começou a olhar. Enquanto olhava, sua roupa se molhava com a chuva e acabava grundando no corpo. Então tornava-se exposto: ao tempo, à chuva, a si mesmo... Era ele e seu corpo contra toda a natureza urbana. Pensava nas lógicas da vida, nos cabimentos das coisas... E se quadava sentado, olhando a chuva cair dele. Era ele quem chovia, era dele aquela água toda. Então se perguntava: que será a chuva? Não sabia. Sabia ao certo o caminho de volta para casa. E caminhava de volta, sob o vento a chuva, e sob o tédio e sob si mesmo, mas voltava completo.
O Outro
O outro me desgusta.
Me come a carne,
Me lambe o dorso,
Me corta a cara.
Dou-me a outro
Que vira eu
Que acabo sendo o outro mesmo.
Por fim, somos dois:
Eu e o outro,
Um só(zinho).
Me come a carne,
Me lambe o dorso,
Me corta a cara.
Dou-me a outro
Que vira eu
Que acabo sendo o outro mesmo.
Por fim, somos dois:
Eu e o outro,
Um só(zinho).
quarta-feira, 12 de novembro de 2008
Palhaçada
Estampa na cara um sorriso
E cheira uma flor nefasta,
Pierrot.
Limpa tua lágrima
E corre estrada afora
Que ao fim te espera Colombina.
Cambalhota, pois,
Que este é o pulo derradeiro:
Te'spera ao fim da rua o fim do dia.
Então a fantasia s'esvai no vento
E faz do outrora palhaço
Carpinteiro.
E cheira uma flor nefasta,
Pierrot.
Limpa tua lágrima
E corre estrada afora
Que ao fim te espera Colombina.
Cambalhota, pois,
Que este é o pulo derradeiro:
Te'spera ao fim da rua o fim do dia.
Então a fantasia s'esvai no vento
E faz do outrora palhaço
Carpinteiro.
segunda-feira, 10 de novembro de 2008
O Homem e o Engasgo
Era um homem bacana. Confesso que às vezes até bonito era. Mas o mais legal era o saber conversar dele, que sempre distraía todo mundo, sempre atraía todo mundo. O tipo da conversa que parece não ter fim, que sempre tem novidade mesmo em papo repetido. Conversava sobre os gregos e sobre futebol. Filosofava, às vezes, bonito que só. Mas um dia ele ficou calado. Alguma coisa agarrou na garganta dele e o fez ficar sério. Aquele homem bacana d'outrora, eu o via meio verde, mas não um verde de quem passa mal, era um verde meio funesto; funesto e colorido em vários tons. E a coisa ficava prendendo ele, não deixava respirar, nem falar nem chorar. Só prendia. Ele apertava, fazia pressão pra escapar pelos ouvidos ou poelo nariz, tomava água pra ver se desentalava, mas nada ajudava. Um dia tentou apertar. E funcionou! Mas durou pouco, voltou a entalar-lhe o pescoço aquela coisa. Então apertou mais forte. Mesma coisa. Voltou rápido. Teve então uma idéia magnífica. Usar a corda.
quarta-feira, 5 de novembro de 2008
O Fim do Mundo
Disseram-me que iria se acabar o mundo.
Subi morro e fui ao samba,
Bebi cachaça, dancei na mesa,
Tirei a roupa, gastei dinheiro.
Perdoei gente, xinguei a puta,
Bati no bobo, apanhei do forte.
Passei de doido, gritei pra cristo,
Pequei pra burro e cospi na cruz.
E o mundo não se acabou...
Subi morro e fui ao samba,
Bebi cachaça, dancei na mesa,
Tirei a roupa, gastei dinheiro.
Perdoei gente, xinguei a puta,
Bati no bobo, apanhei do forte.
Passei de doido, gritei pra cristo,
Pequei pra burro e cospi na cruz.
E o mundo não se acabou...
domingo, 2 de novembro de 2008
Fortaleza [3]
Invólucro não-solúvel;
Espirros ácidos;
Olhos vermelhos;
Face aguda;
Choro absoluto.
É fortaleza.
Fortaleza [2]
É Fortaleza. É Fortaleza. É Fortaleza. É Fortaleza. É Fortaleza. É Fortaleza. É Fortaleza. É Fortaleza. É Fortaleza. É Fortaleza. É Fortaleza. É Fortaleza. É Fortaleza. É Fortaleza. É Fortaleza. É Fortaleza. É Fortaleza. É Fortaleza. É Fortaleza. É Fortaleza. É Fortaleza. É Fortaleza. É Fortaleza. É Fortaleza. É Fortaleza. É Fortaleza. É Fortaleza. É Fortaleza. É Fortaleza. É Fortaleza. É Fortaleza. É Fortaleza. É Fortaleza. É Fortaleza. É Fortaleza. É Fortaleza. É Fortaleza. É Fortaleza. É Fortaleza. É Fortaleza. É Fortaleza. É Fortaleza. É Fortaleza. É Fortaleza. É Fortaleza. É Fortaleza. É Fortaleza. É Fortaleza. É Fortaleza. É Fortaleza. É Fortaleza. É Fortaleza. É Fortaleza. É Fortaleza. É Fortaleza. É Fortaleza. É Fortaleza. É Fortaleza. É Fortaleza. É Fortaleza. É Fortaleza. É Fortaleza. É Fortaleza.
sábado, 1 de novembro de 2008
Tristeza
Que nem Chico Buarque apaga,
Que nem carnaval dissolve,
Que nem ódio substitui,
Que nem máscara esconde,
Que nem nada resolve,
Que torna tudo mais sensível
E faz do corpo alvo mais sensível.
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