Que és?
Só Isto.
Este ligeiro fragmento de imagem humana,
Só este fragmento desse todo.
Não me posso mostrar
Como aquilo que só é abstrato.
Entretanto, sou só isto
Entre este tanto de imagem que ofereço.
Sou só o que posso ser.
Pó, Musgo, Bicho.
Óleo sobre tela; Guache no papel; Fogo sobre vela; Vinho sobre fel. Somos nós água e óleo.
Que és?
Só Isto.
Este ligeiro fragmento de imagem humana,
Só este fragmento desse todo.
Não me posso mostrar
Como aquilo que só é abstrato.
Entretanto, sou só isto
Entre este tanto de imagem que ofereço.
Sou só o que posso ser.
Pó, Musgo, Bicho.
Chegamos a este ponto:
Ninguém conjuga nada
Que não seja singular.
Pronome
Que não fuja do possessivo.
Verbo
Que não seja diferente de ter.
Adjetivo
Que não seja diferente de egoísta.
E assim vai...
No imenso Português oportuno
Que conjugou a luta colonial
Desde os tempo de mar aberto...
Contanto que seja meu mar...
Creio-me agora
Numa despedida tétrica.
Numa miscigenação de gostos e desgostos.
Dou-te agora adeus,
E tento fazer-te sóbrio diante disso.
É esta, talvez,
A última tentativa de encarnação humana
Neste peito que agora
À morte dá,
Amor te dá,
E à Mor te dá
Só não se esqueça
Que amor(te) dei...
Em vão...
Foram.
Foram todo embora...
Até Narciso foi, encontrou paixão nos braços de Dorian Gray.
Assim, não resta nada.
Todos se foram,
E, de par em par,
Fiquei Eu...
Ímpar.
Absoluto.
Obsoleto.
Comeu pela manhã
Como se fosse príncipe.
Tornou todos seus planos
Mais maquiavélicos.
Fez de toda sua vida
Um buraco mórbido.
Andou mais de uma hora
Já num passo insólito.
Na curva de uma esquina
Vê o boteco sórdido.
Dois goles de cachaça
Move a glote ríspida.
Um tombo face ao chão
Seu rosto estava pálido.
Um toque no seu ombro
Uma resposta gélida.
Um grito de angústia
Seu corpo já é sólido.
Com calma bem de leve
A morte veio rápida...
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Cantou seu Louva-a-Deus
Com seu compasso tétrico.
Abriu sua boca então
Com o seu grito tácito.
Parou seu coração
Como num choque elétrico.
E viu seu fraternal
Irmão de sangue pávido,
Rezou Salve-Rainha
Num choro silábico
-Lamento, oh meu irmão
-a morte veio rápida
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Acolhe seu amor
Com seu abraço tático,
Acariciou seu rosto
Com seu gesto ínfimo:
-Se acalme meu amor
-A morte é mesmo insólita.
-Ataca sem razão
-A morte é mesmo rápida.
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O pobre já deitado
Vem de aborto elétrico,
Sapato e barba feita
Antes de impúbere.
Já nos seus doze anos
Se quedava bêbado.
Aos dezessete anos
Na vida era incrédulo,
Saiu da faculdade
Com a mente pórtica.
De todos seus irmãos
Era o filho pródigo
Não ia à Igreja
Achava-se cético.
Rezava às nove horas
Que achava benéfico.
Lia tudo que é livro,
Interpretava a Bíblia.
Viveu toda sua vida
Em menos de uma década
Difícil impressão
A morte é mesmo rápida...
Sinto que sou um pouco de tudo
Um pouco dos pés que passam nas ruas
Um pouco das brigas do casal
Dos amores dos bandidos
Dos horrores dos banidos
Dos ardores dos queridos...
Sempre quis ser o que não sou
Mas sempre fui o que teria de ser
Às vezes acho que meu porto seguro está em chamas...
Estás perdido nesse mundo de falas
Nesse abre alas
Oh, criança, acorda para este mundo que te retrái,
Gosta de tua vida
Veja quão bela é a vida (humpf!)...
O ponto na ponta da frase;
a frase na ponta do lápis;
o lápis na ponta do dedo;
o dedo na ponta da mão;
a mão na ponta do homem;
o homem na ponta de quê???