Óleo sobre tela; Guache no papel; Fogo sobre vela; Vinho sobre fel. Somos nós água e óleo.
domingo, 29 de junho de 2008
...
Reti-sensos...
Reto e sensos...
Ritos e sonsos...
Ratos e sensos...
Roucos salsos...
Rangos sifos...
E reticências...
quinta-feira, 26 de junho de 2008
O depois do agora
Depois a gente brinca de lamber água
Que escorre pela face e rola, inocente,
Sem culpa da tristeza alheia.
E a gente brinca de gritar angústia,
Aí a gente brinca de cortar os pulsos
E depois a gente brinca de brincar de morte
E deita, calmo, pálido, ríspido.
E brinca de despedida:
Beijo, choro, tchau.
Reticências
A tristeza aclança e fere
Com ferro quente,
E corta a fogo a pele
Frágil e branca.
Toca e dilacera
Olho de menino grande
Que chora de medo
Do amanhã incógnito,
Escondido por entre vento
E nostalgia.
E depois consola,
Com a faca suja de sangue
Acaricia a face fria e trêmula,
E beija a boca num sinal de Judas
E se despede com a morte fria...
Nova Erao
Lentas e fixas como elas são,
Ricas e tortas como elas são,
Ásperas e rígidas como elas são,
Tétricas e céticas como elas são,
Começam, agora, a mudar então.
Monólogo infantil: sobre o primeiro amor
Aí Ela me chama e me brinca e m'esquenta. Aí eu fico até daquela cor que não sei o nome, aquela clara, que brilha, brilha. Aí, depois, vem Ele. E Ele me canta e me abraça, de longe, que nem seinto o abraço dele, mas sinto o amorzinhinho dele. Sei que quando eu chegar lá fora uma tal de mamãe vai me amar muito, foi Ela quem me contou. Sei também que um tal de papai vai me proteger, porque Ele me disse. Mas não quero papai nem mamãe, quero ficar com Ela e Ele. A eles eu amo.
quarta-feira, 25 de junho de 2008
Hereditariedade
E putrefo,
Só pra manter motivo
Só pra meter mais vivo.
E ainda sei
Que mais hora
Menos hora
Hei de me perder nessa ânsia.
Hei de herdar seu trono, trêmulo.
E hei de chorar tua morte.
Mas limparei o sal dos olhos e vos direi:
Respeitai a mim, vosso senhor.
Aliterações aliterárias
E nessa ginga, gemo.
Espero translações
Tão translúcidas,
Tanto quanto o teto
Do meu quarto roxo-alvo-rubro.
Pé pesado, passo,
Me perpassa o pó, poeira
Cá, pó. Capoeira.
Pingo lá do pico
Pinga preta, pó, piau.
Redondo, rodo, reto
Rio, riso e coisa e tal.
Não adianta nada,
Nada, nada, nada
Nado, nato, ninguém
Apto, ninguém sóbrio,
Nem eu.
Me masturbo em letra.
E gozo ponto final
terça-feira, 24 de junho de 2008
E o cara da rádio não cala a boca.
Não quero saber da crise estatal.
Acho meu estômago mais importante
Do que a crise nacional.
Foda-se a prefeitura
Se dane o congresso
Se lasque o prefeito
Jà tem mais de um processo.
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Dia 2
Obrigado, Senhor
O pão estava ótimo.
Não gostei muito do circo,
Acho que pode melhorar.
O palhaço é sem graça
E eu preferi o mágico.
Obrigado, Senhor
Já trabalhei minhas oito horas,
Respondi ao meu processo
E não levei meu patrão na justiça.
Sem contar que pus
Cinqüenta centavos na caixinha
Da Igreja.
Amém, Senhor.
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Dia 3
De repente
Ficou tudo tão pequeno
Que até entendo Rutherford.
Mas ainda não sei nada
Sobre a crise nacional.
Às vezes sinto muita vontade de comer açúcar
Deve ser o resultado da metamorfose.
Ou porque ninguém tem coragem
De vir Kafka comigo.
É o nojo da casca das costas.
Obrigado, Senhor.
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Dia 4
E o cara da rádio
Não quer calar a boca
Eu já me cansei da crise nacional.
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Dia 5
Fui, enfim despedido
Daquela droga de rádio
Não preciso mais saber sobre a crise nacional
Eu só quero agora minha arma na boca
E ir pra casa e coisa e tal.
Tchau.
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Dia 6
...
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Dia 7
...
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Dia 8
...
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Dia 9
...
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ETC.
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Obs: ETC = Espírito Tragicamente Corrompido
quinta-feira, 19 de junho de 2008
(dez) Igualdades Tétricas
E ela canta sempre comigo.
E a gente se sente falta.
Por que ela é somente a moça da foto.
E somente não existe mais.
E a cara dela mente a doença,
E a cara dela esconde a tristeza.
E a cara dela fala, por si só, que inda há dor.
Igual à minha.
E, de repente a gente descobre
Que tá tudo igual.
Não tem mais só foto.
Agora tem a gente.
Forte, fraco, morto.
Guerra fria
Ao pé da escada.
Me desfaço das flechas
Que me fazem tão frio.
E é só depois que vejo
Que a flecha que desviou ao lado
Acertou alguém.
E esse alguém era mais forte.
Mais que meu escudo.
Era uma parte de mim
Desculpa, Amor.
quarta-feira, 18 de junho de 2008
No Teu Sono
Continua deitada
Que vou buscar pra ti
A aurora mais fresca,
A aurora que te adormeça
E faça sono, e faça sonho.
Quando tu dormes
Vejo no rubor da tua face, em sono,
Que ainda há, mesmo que em resíduo
Inocência.
E quando tu dormes,
Vejo que, em persistência,
A vida se faz mais bela,
E mais bela se torna no teu sono.
A coisa
Porque que é que nunca dá pra bater de frente?
Porque que será que nunca nada será da gente?
Meu filho, isso acontece porque a coisa anda coisando por aí.
Se ela te coisar, você vai ficar coisado.
E te garanto...
Ficar coisado não é legal.
sábado, 14 de junho de 2008

O que acontece é simples.
A gente que tenta complicar.
O fato é que um dia acaba.
O casamento, a farra, a juventude.
A vida.
"Não chores por mim.
Partirei em calma,
Chamarei teu nome,
E dar-te-ei a glória.
Mas não chores.
Que parto feliz.
Como quem encerra o sofrimento e a dor.
Cuida da vida,
Tu que fica."
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A moça da foto é(foi) minha tia.
sexta-feira, 13 de junho de 2008
Infantilismo
Se não a uso na infância?
Se posso conjugar errado e acertar a idéia,
Delirando o verbo,
Porque falar no certo?
Porque ver a cor da vida,
Se o gosto da cor é bem melhor?
Porque sentir o cheiro de café,
Se ele grita ao meu ouvido?
Deliro verbo.
Mas a razão está intacta.
Infantilismo.
Monte Castelo
Desculpa-me se fui em nome da pátria.
Desculpa-me se tentei a luta.
Desculpa-me se não confiei, e tentei salvar meus filhos.
Tentei salvá-los do ódio facista, da mão nazista.
Tentei salvá-los da morte, a pior de todas.
Tentei salvá-los do dó. Tentei salvá-los dos olhos alheios.
Não consegui. Me atingiram pelas costas, os meu amigos.
Senti o frio traidor no fogo amigo.
Senti o estrago do ódio nas pequenas balas inimigas.
E senti a morte me lavando.
E senti o amor, que só eu tinha. E usava.
E senti que não era mais necessário usar.
As balas falavam por ele.
"Sem amor eu nada seria."
quando me atiraram a lança no peito.
Não chorei quando me esfolaram a face.
Não chorei.
Não chorei quando me bateram pelas costas
E me disseram que era fraco.
Ora, porque haveria de ser eu, fraco?
Porque haveria de ser eu o traidor?
Porque haveria eu de ser o culpado de tudo isso?
Mas não chorei.
Ergui a cabeça, agradeci a todos.
Olhei à elas, pedi perdão.
Aí, sim, chorei.
Mas chorei porque o sonho havia acabado.
E chorei porque havia sido amado.
E chorei porque queria tornar tudo melhor.
Então saí.
Dei a mão à carruagem que me perpassava
E tomei destino rumo ao nada,
Hoje só me resta a cova,
Ríspida e brilhante,
E carregada do fascínio com que adimiravam minha força.
quinta-feira, 12 de junho de 2008
Monólogo Infantil: Por que que quando acaba fica tudo mais melhor???
vermelha sinto que tô saindo do casulo. Aí vou lá fora e pego uma rosa bem vermelhinhazinha e mostro a cor gritada dela pra minha mãe. Você não conhece ela, mas se conhecesse com certeza ia amar mais que eu. A gente sempre ama a mãe da gente...
A gente só não ama quando ela é malvada e joga do sexto andar.
Reti--sensos
E os olhos gritam a luz da lua.
E a alvura vulga de tua pele
Se torna inefável ao som da lua.
E o verde esconde a cor dos olhor
Que é negra por herança humana.
E o rubor da face lânguida
Me declara a exaustão.
E a lua que perpassa a janela
Banha o ápice sinestésico.
Acabou.
terça-feira, 10 de junho de 2008
Escárnio/ Escarro
Cospido como ele só,
Me agarra as entranhas
E como ele só,
Acidula tudo aquilo
Que outrora era paixão.
quinta-feira, 5 de junho de 2008
Discurso Póstumo
Minha vereda é, agora,
Os verdes campos, olorosos
Dissera basta ao tédio de mim possessor.
Que, ácido, me corroia as entranhas
M’embalo nesse manto negro,
Pra fugir daquela lucidez
Que me doía os olhos:
Furos nas retinas doridas
Paro de chorar, agora que cheguei
A(o) dor(me) dela, sou grato.
_Dei-te a mão, Dona da Foice.
E agora, me despeço, nada peço.
Agradeço-te, que amor(te) dei,
Em vão.
quarta-feira, 4 de junho de 2008
Apocalipse
Prepara suas catapultas sentimentais
E lançam o asco ácido sobre os homens.
É, inda bem que nos avisaram
E a gente está preparado...
Não tá?
Desenomado
Já doei meu corpo
À tua alegria.
Já senti teu rosto;
Tua cara fria...
Mas nunca, na passagem
Desse tempo onde criei
Todo esse ódio negro
Nesse quase-verso-branco
Não achei pessoa alguma
Que curasse esse meu pranto.
Já cortei os pulsos
Com lâmina fria
Me acolheu convulso,
Me encheu de alegria.
Mas só quero que saiba
Que amanhã quand’eu partir
Te levo com meu pranto
Nesse quase-falso canto.
Já doei meu corpo
À tua alegria.
Já senti teu rosto
Tua cara fria...
E só quero que saiba
Que amanhã quand’eu partir
-Não há nada maior
De tudo que eu por ti senti.
segunda-feira, 2 de junho de 2008
Mudo...
Me toca face e corpo
E me faz estático porque me toca.
E permaneço quieto,
A olhar o fragmento de pó de estrela,
Quen insiste em brilhar,
Mesmo que já sem vontade.
Aproveito e faço igual.
Ainda mudo.